O lápis mágico de Malala

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Acreditas em magia?
 
Quando eu era mais nova, costumava ver um programa na televisão sobre um menino que tinha um lápis mágico. Se ele sentia fome, desenhava uma tigela de caril, e a tigela aparecia. Se ele e os amigos estavam em perigo, desenhava um polícia. Este menino era um pequeno herói, sempre pronto para proteger as pessoas que precisavam de ajuda.
 
Como eu desejava também ter um lápis mágico!
 
Se eu tivesse um lápis mágico, usá-lo-ia para…
 

Feminilidade

O feminismo e a feminilidade não são mutuamente exclusivos e é injusto sugerir que o são. Infelizmente, as mulheres foram ensinadas a ter vergonha e a desculpar-se por interesses que são vistos como tradicionalmente femininos, tais como a moda e a maquilhagem.

Contudo, a nossa sociedade não espera que os homens sintam o mesmo em relação a interesses considerados masculinos, tais como carros desportivos e alguns desportos profissionais. Nem considera que o cuidado que um homem tem com o vestuário seja tão suspeito como o de uma mulher.

Um homem bem vestido nunca se preocupa que, pelo facto de estar bem vestido, sejam feitas certas conjeturas acerca da sua inteligência, capacidades ou integridade.

Por outro lado, uma mulher tem de ter sempre cuidado com o facto de o seu batom poder parecer demasiado berrante ou de a sua indumentária cuidada poder dar a entender que é uma pessoa frívola. Continuar a ler

Ser mãe aos quinze anos

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Fiquei grávida no fim do nono ano. Foi um choque total. Sabia que teria de enfrentar muitas dificuldades: dar a notícia aos meus pais, decidir se iria adiante com a gravidez, e descobrir que maneira eu e o Ronnie, o pai da criança, tomaríamos conta dela. Como, apesar da inconsciência do nosso comportamento, tinha consciência de que ia precisar de muita ajuda, falei primeiro com a minha mãe. Assim que lhe contei, percebi o quanto a desapontara e o quanto ela se debatia para aceitar a situação e falar dela ao meu pai.

Continuar a ler em https://condicaodamulher.wordpress.com

 

 

O maltrato subtil

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O maltrato subtil

Num qualquer dia, numa qualquer cidade, num qualquer país, nasceu uma linda menina, cujos olhos maravilhosos observavam tudo em redor.

Quando começou a andar pela cidade, as pessoas disseram-lhe que, para ser bonita, tinha de usar vestidos bonitos. E ela deixou de se sentir bonita quando não tinha posto um vestido bonito.

Quanto à cor da pele, aconselharam-na a mudá-la, para ser mais bonita, e ensinaram-na a maquilhar-se. A partir desse dia, a menina nunca mais se sentiu bonita se não estivesse maquilhada.

Outro reparo que lhe fizeram foi relativo à altura. Se não fosse mais alta, não seria bonita. A menina começou, então, a usar saltos altos, com grande sacrifício. Aliás, se não calçasse sapatos de tacão, sentia-se sempre baixa e insignificante.

Claro que para ser bonita tinha de ser magra. Assim, nunca mais pôde comer aquilo de que gostava sem se sentir sempre culpada.

E também lhe falaram do cabelo, da cintura, do peito. Deste modo, a menina começou a sentir-se tão feia que todos os dias despendia mais tempo e fazia mais sacrifícios para se sentir um pouco mais bonita.

Acabou por estragar a pele por causa da maquilhagem diária, por deformar os pés por causa dos saltos altos, que usava constantemente, e por ficar debilitada para poder continuar magra segundo os padrões que lhe exigiam.

Tinham-lhe ensinado a não gostar de si como era e a usar sempre artifícios para ser digna do apreço dos outros.

Até que chegou o dia em que começou a ter medo de que os outros descobrissem como era realmente. Sentindo-se feia, apaixonou-se por um rapaz que a tratava como se não fosse digna dele, atitude que ela achou normal. Sentindo-se feia e sem conseguir aceitar-se, passou a permitir que a maltratassem.

Nunca te esqueças de que a verdadeira beleza é uma atitude, e de que és sempre uma pessoa lindíssima quando és autêntica.

Diego Jiménez

 

Mary Anning, investigadora de fósseis

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Mary Anning, investigadora de fósseis

O maior investigador de fósseis conhecido foi uma mulher inglesa chamada Mary Anning, cujas descobertas constituem alguns dos achados geológicos mais importantes de sempre, essenciais para conhecermos a história da Terra.

Aos 12 anos de idade, Mary descobriu o primeiro fóssil de ictiossauro. O fóssil media cinco metros de comprimento e estava incrustado num penhasco íngreme, na costa de Dorset. As suas descobertas incluem outros répteis marinhos antigos, hoje em exposição no Museu de História Natural de Londres, como o plesiossauro e um dos primeiros fósseis de pterodáctilo.

Os rochedos e a praia de Lyme eram ricos em belemnites e amonites, assim como em répteis e peixes, ali deixados 200 milhões de anos antes, durante a Era Jurássica. Anning procurava fósseis na área dos penhascos de Blue Lies, sobretudo durante os meses de inverno, altura em que os deslizamentos de terra expunham novos espécimes, que tinham de ser extraídos rapidamente, antes que fossem levados pelo mar. Era um trabalho perigoso, no qual ela quase morreu em 1833, e que lhe custou a perda do seu cão Tray.

Nascida em 1799, Mary Anning teve de lutar com dificuldades financeiras durante grande parte da sua vida. A família era Continuar a ler

LYDIA CACHO e a luta pela liberdade

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 “O jornalismo está em liberdade condicional.”

Jornalista, feminista, escritora e defensora dos direitos humanos, Lydia Cacho é especialista em temas de género e violência na UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher). Cofundadora da Rede de Jornalistas do México, Centro-América e Caraíbas, é ainda, atualmente, fundadora e diretora do Centro de Atendimento Externo para Mulheres Maltratadas em Cancun, CIAM. Foi galardoada com os prémios Human Rights Watch 2007, o Prémio Mundial UNESCO para a Liberdade de Imprensa, Guillermo Cano – 2008 e, no mesmo ano de 2008, também recebeu o Prémio Liberdade de Expressão, da União de Jornalistas de Valência.

Em 2006, conheci Lydia, na Cidade Juárez, enquanto preparava a viagem ao México com a Plataforma das Mulheres Artistas, para denunciar os crimes contra as mulheres. Já antes dessa viagem, tinha estado em contacto com ela, e juntas planificámos todas as ações a levar a cabo no México. Recordo o primeiro encontro, na Casa de Espanha, e nunca esquecerei aqueles seus olhos cheios de vida e de doçura, nem aquela energia que me uniu a ela para sempre. Senti como se de minha irmã gémea se tratasse, como sei que sentem muitíssimas mulheres às quais foi devolvida a valentia e a força para seguirem em frente, particularmente as da Casa de Acolhimento que dirige, com uma metodologia baseada no amor e no Continuar a ler

…vagueámos pelas ruas de Nagpur, comendo apenas o que nos davam (Shahenaz Kureshi, 18 anos)

Chamo-me Shahenaz Kureshi.

Tenho 18 anos e vivo com a minha mãe nos bairros de lata de Nagpur. O meu pai, Hakim Kureshi, queria desesperadamente ter um herdeiro varão e, por isso, ficou furioso com a minha mãe quando eu nasci. De­pois de eu nascer, começou a mal­tratá-la, tanto física como men­talmente. Considerava o facto de eu ser a primeira criança do sexo feminino da sua família como uma ofensa pessoal e tentou matar-me.

Por fim, a minha mãe decidiu deixá-lo para me salvar.

Quando tinha apenas um mês, a minha mãe partiu da nossa terra natal em Orissa, em direção a Nagpur, onde viviam os meus avós maternos. Mas, quando lá chegámos, eles não quiseram receber-nos. A minha mãe sentiu-se completamente desamparada e, nos dias seguintes, vagueámos pelas ruas de Nagpur, comendo apenas o que nos davam.

Para piorar ainda mais a situação, Continuar a ler

…e largou-o. A ele, à droga e à prostituição (Inês 43 anos)

Rebelde, com boa imagem e uma vontade imensa de experimentar coisas novas, deixou-se aliciar por um estado surreal que alguns traficantes lhe proporcionavam através da droga. Tinha 19 anos, na altura, e trabalhava num hipermercado.

Deixou-se levar, e em três tempos estava no Técnico a prostituir-se. Na primeira vez que se prostituiu, encontrou um homem que a tratou bem e a tentou desincentivar desse caminho, mas o vício e a necessidade de ter dinheiro eram superiores a qualquer tipo de consciência. “Adorava consumir. A droga é uma maravilha, o pior é conseguir sustentá-la.” E começou logo a ter muitos clientes, a prostituir-se de dia e de noite e a consumir cada vez mais, “ao ponto de adormecer assim que entrava num carro”. Ainda assim, sabia que tinha de parar. “Ou parava ou morria”. O acesso à droga era facílimo. Continuar a ler

Os novos abolicionistas

Retirado de A condição da Mulher

OS NOVOS ABOLICIONISTAS

Embora, em termos globais, as mulheres não tenham alcançado posições de topo como líderes políticas, são elas que encabeçam as fileiras do empreendorismo social. Mesmo em países onde os homens monopolizam o poder político, as mulheres constituíram organizações influentes e têm desempenhado um papel catalisador como agentes de mudança. Muitas mulheres tornaram-se empreendedoras sociais para poderem assumir posições de liderança no novo movimento abolicionista contra os traficantes de sexo. Uma delas, Sunitha Krishnan, um Membro da Ashoka[1] na Índia, é uma figura lendária nesse domínio.

Oriunda da classe média, Sunitha frequentou um infantário em criança. Quando chegava a casa, pegava numa lousa e ia ensinar a um grupo de crianças pobres o que aprendera nesse dia. Essa experiência marcou-a tanto que decidiu tornar-se assistente social. Fez estudos universitários na Índia e a sua atenção centrou-se na literacia. Um dia, quando, acompanhada por um grupo de colegas, tentava ajudar alguns pobres de uma aldeia, foi interrompida por um bando de homens que se ressentia da sua “interferência”.

“Como não gostaram do que estávamos a fazer, decidiram dar-nos uma lição,” recorda Sunitha.

Num inglês de classe média-alta, o que a faz parecer mais uma professora universitária do que uma ativista, Sunitha descreve, de forma analítica e neutra, embora incisiva, a violação de que foi alvo e a sua recusa em fazer uma denúncia, por achar que era tempo perdido. Contudo, esse ato levou à estigmatização da sua família e à sua culpabilização.

“Não foi tanto a violação que me afetou como a forma como a sociedade me tratou. Ninguém questionou a motivação daqueles homens. Apenas questionaram a razão da minha presença ali e o facto de os meus pais me terem dado liberdade para eu o fazer. Compreendi que o sucedido fora um episódio isolado para mim, mas que, para muitas mulheres, era algo que ocorria todos os dias.”

Sunitha decidiu, então, dedicar-se à abolição do tráfico sexual em vez de à implementação da literacia. Viajou por todo o país e falou com o maior número de prostitutas possível, num esforço para compreender o mundo do sexo comercial. Estava a viver em Hyderabad, quando a polícia levou a cabo uma ação repressiva numa das zonas de meretrício, talvez porque os donos dos bordéis não lhe tivessem pago subornos suficientes ou precisassem de um “incentivo”. A ação teve consequências catastróficas. De um dia para o outro, os bordéis da zona foram fechados, sem que as raparigas que lá trabalhavam recebessem qualquer tipo de apoio. As prostitutas eram alvo de um tal estigma que não tinham para onde ir nem tinham forma de ganhar qualquer tipo de sustento.

“Muitas daquelas mulheres começaram a suicidar-se,” recorda Sunitha. “Quando ajudei a cremar corpos, vi que a morte funcionava como um fator de união entre as pessoas. Quando perguntei às mulheres o que queriam que fizéssemos por elas, pediram que fizéssemos antes algo pelos filhos.”

Sunitha começou a trabalhar com um missionário católico, o Irmão Joe Vetticatil. Embora ele já tenha morrido, Sunitha ainda mantém uma fotografia dele no seu gabinete e a fé dele marcou-a profundamente.

“Embora seja uma hindu convicta, considero os ensinamentos de Cristo muito inspiradores,” comenta.

Sunitha e o Irmão Joe abriram uma escola num antigo bordel. No início, apenas se inscreveram cinco de entre os 5 mil filhos de prostitutas que tinham direito a frequentar a escola. Mas a escola cresceu e, em breve, Sunitha começou a construir albergues, não só para as crianças, mas também para as raparigas e mulheres que tinham sido libertadas dos bordéis. Chamou Prajwala à sua organização, que significa “Uma Chama Eterna”, e cujo endereço eletrónico é http://www.prajwalaindia.org.

Embora uma zona de meretrício tenha sido fechada, havia outras em Hyderabad e Sunitha começou a organizar operações de resgate das prostitutas que trabalhavam nos bordéis. Percorreu as periferias mais abomináveis e sórdidas da cidade para falar com elas e tentar convencê-las a organizarem-se e a denunciarem os proxenetas. Em seguida, confrontou proxenetas e donos de bordéis, numa tentativa de recolher informações para entregar na polícia e convencer os agentes a levar a cabo mais ações repressivas. Tudo isto enfurecia os donos das casas de passe, que não compreendiam por que razão uma mulher minúscula lhes fazia frente e tornava o seu negócio tão pouco lucrativo. Organizaram-se e exerceram represálias, atacando Sunitha e todos quanto trabalhavam com ela. Partiram-lhe um braço e deixaram-na surda de um ouvido.

O primeiro empregado de Sunitha foi Akabar, um antigo proxeneta que tomou consciência do mal que cometera e que lutou de forma valerosa para ajudar as raparigas da zona de meretrício. Mas os donos dos bordéis retaliaram, apunhalando-o até à morte. Foi quando teve de contar à família de Akabar como este morrera que Sunitha se deu conta da necessidade de ser mais cautelosa.

“Apercebi-me de que a nossa abordagem não era sustentável. Se quiser levar a cabo uma tarefa duradoura, tenho de prestar contas à minha equipa e às suas famílias. Não posso esperar que ajam todos como eu.”

A organização Prajwala começou a trabalhar com o governo e com grupos de ajuda para fornecer reabilitação, aconselhamento e outros serviços. Sunitha arranjou forma de ensinar as antigas prostitutas a fazer artesanato e encadernações — algo que outras organizações também costumam fazer — bem como a ser soldadoras e carpinteiras. Até agora, Sunitha já ajudou a reabilitar 1500 mulheres, ao fornecer-lhes estágios de trabalho de seis a oito meses que lhes vão permitir iniciar carreiras novas. A Prajwalatambém ajuda as mulheres a regressar às suas famílias, a casar, ou a viver sozinhas. Sunitha afirma que, até agora, 85 por cento das mulheres têm conseguido manter-se afastadas da prostituição, enquanto 15 por cento regressaram a ela.

“Há mais prostituição agora do que quando começámos a trabalhar,” declara, com tristeza. “Quase diria que falhámos, porque em cada dez raparigas que salvamos, entram outras vinte nos bordéis.”

Nós, contudo, cremos que este balanço é demasiado pessimista.

Comemos em conjunto um almoço simples servido em pratos de lata amolgados. Enquanto debica o seu chapati, Sunitha entabula conversa com uma das suas voluntárias, Abbas Be, uma jovem de cabelo negro e pele castanha clara. Abbas tinha sido levada para Deli em adolescente para trabalhar como empregada doméstica, mas acabou num bordel, onde a espancavam com um bastão de críquete para a forçar a obedecer. Três dias depois da sua entrada, Abbas e as setenta raparigas foram forçadas a assistir ao castigo infligido a uma outra adolescente, que tinha repelido os clientes e tentado incitar as outras raparigas a rebelar-se.

Quando Abbas foi libertada durante um raide, Sunitha encorajou-a a vir para a Prajwala e aprender uma profissão. Neste momento, Abbas está a iniciar-se na arte da encadernação e ensina as outras raparigas da organização a evitarem ser traficadas.

Ambas desejam que todos os bordéis sejam fechados e não apenas regulamentados e a opinião de Sunitha tem cada vez mais impacto na região. Há uma dezena de anos atrás, seria impensável que uma jovem assistente social, de baixa estatura e com um pé aleijado, pudesse ter alguma influência sobre as máfias que dirigem os bordéis de Hyderabad. Os grupos de ajuda eram demasiado sensatos para se imiscuírem no problema. Contudo, Sunitha entrou corajosamente nesse mundo e fundou a sua própria organização, numa atitude que é caraterística dos empreendedores sociais. Embora pareçam, por vezes, pessoas pouco razoáveis e difíceis, são estas mesmas caraterísticas que as tornam bem-sucedidas.

Sozinha, Sunitha não teria tido recursos para fazer campanha contra os bordéis. Foram os doadores americanos que a apoiaram e ampliaram o seu impacto. A título de exemplo, um dos maiores apoiantes dos programas da Prajwala tem sido a organização americana Catholic Relief Services[2].

As redes de apoio e as referências que Bill Drayton tem feito a ela, enquanto Membro da Ashoka, também ajudaram a alargar a sua influência. Este é o tipo de aliança entre o primeiro e o terceiro mundo de que o movimento abolicionista necessita.

Nicholas D. Kristoff & Sheryl Wudunn
Half the sky – How to change the world
London, Virago Press, 2010
(Tradução e adaptação)

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[1] Fundada pelo americano Bill Drayton em 1980, a Ashoka é uma organização mundial, sem fins lucrativos, pioneira no campo da inovação social, do trabalho e do apoio aos empreendedores sociais – pessoas com ideias criativas e inovadoras capazes de provocar transformações com amplo impacto social. (N.T.)

[2] A agência humanitária oficial da comunidade católica dos Estados Unidos. (N.T.)