Era uma vez uma floresta.
Durante milhares de anos, a floresta tinha-se gradualmente transformado numa mata densa e exuberante.
Um dia, contudo, as pessoas começaram a cortar a floresta.
Era uma vez uma floresta.
Durante milhares de anos, a floresta tinha-se gradualmente transformado numa mata densa e exuberante.
Um dia, contudo, as pessoas começaram a cortar a floresta.
Sempre que lemos, é como se nos víssemos ao espelho e entabulássemos um diálogo connosco mesmos. Enquanto o fazemos, aprofundamos as nossas qualidades humanas.
Era uma vez um lindo camaleão que vivia numa ilha do Pacífico.
A pele do animal mudava de cor conforme o lugar onde se encontrasse: no alto de um ramo ficava castanho; se descansava entre as folhas de uma árvore, fazia-se verde; se quisesse caçar e subisse para cima de uma pedra, tornava-se da cor da pedra…
E assim podia enganar os insetos que pousavam à sua beira e eram comidos.
Continuar a lerQuantas pessoas refletem verdadeiramente no que significa a sua passagem pela terra? Sim, quantas perguntam: ‘O que faço aqui? Porque é que aqui estou?’
Pé ante pé, já com a casa mergulhada em sono, o menino levantou-se e foi-se até aos sapatos para ver dos brinquedos do Pai Natal.
-— Será um comboio elétrico…? — interrogava-se, a caminho da cozinha, as tábuas do soalho range que range.
Continuar a lerSou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar, e vejo às vezes que as espumas parecem mais brancas e que às vezes durante a noite as águas avançaram inquietas, vejo isso pela marca que as ondas deixaram na areia. Olho as amendoeiras de minha rua. Presto atenção se o céu de noite, antes de eu dormir e tomar conta do mundo em forma de sonho, se o céu de noite está estrelado e azul-marinho, porque em certas noites em vez de negro parece azul-marinho. O cosmos me dá muito trabalho, sobretudo porque vejo que Deus é o cosmos. Disso eu tomo conta com alguma relutância.
Continuar a lerNa minha escola havia uma matéria chamada “Biblioteca”, adorada por todos os alunos.
O motivo de tanta adoração não é esse que a nossa esperança literária acalenta, o amor pela leitura. Era de outra ordem: o amor pelo ócio. Ou melhor, pela liberdade, para não soarmos tão vagabundos. Durante uma hora, não precisávamos copiar textos do quadro, nem fazer exercícios, nem decorar regras e sistemas, nem nada. Estávamos livres. Era assim, ao menos, que a maioria compreendia a matéria. Íamos para a biblioteca, e folheávamos revistas, e batíamos papo, e cantávamos baixinho, e dormíamos.
Continuar a lerEra nisso que o menino acreditava: se as flores crescem assim, por que razão não crescerei eu, também, com a ajuda da água? E o jardineiro lá lhe fazia a vontade: regava-o, com delicadeza, como regava as suas mais belas plantas.
Devido a esta mistura com o jardim ou talvez por causa de qualquer outra razão misteriosa este menino cheirava tão bem que as abelhas não o largavam. Porém, rodeavam-no com modos pacíficos. Que simpáticas eram as abelhas! Como se fossem animais domésticos, amestrados. As minhas abelhas, dizia o menino.
Continuar a lerCostumamos pensar na paz como sendo a ausência de guerra. Achamos que, se os países poderosos reduzissem os seus arsenais bélicos, poderíamos ter paz.
Contudo, se observarmos as armas de perto, poderemos ver nelas as nossas próprias mentes, preconceitos, medos e ignorância.
Continuar a lerDesde que, país após país, foi sendo decretado que a população deveria ficar em casa para impedir o avanço do coronavírus, não me sai da cabeça a ideia de que a Mãe Terra tem sabido, através de meios naturais, abrandar o nosso ritmo frenético. Um ritmo e um modo de vida que a afetam a ela e aos outros seres vivos do planeta, e que, em última análise, nos afetam e afetarão cada vez mais à medida que as alterações climáticas se tornarem tragicamente irreversíveis.
Temos agora a oportunidade de reconhecer que o modo de vida atual tem sido destrutivo, mesmo em relação a nós próprios: por fim, as restrições e um ritmo bem mais lento estão a permitir que a Terra respire. Os níveis de poluição estão, indiscutivelmente, a diminuir, e a situação poderia manter-se assim se uma grande parte da população continuasse a trabalhar, sempre que possível, a partir de casa.
Continuar a lerQuando nos damos conta de que beleza e verdade são uma só, a bondade, a felicidade e o bem-estar fluem naturalmente nas nossa vidas. Assim sendo, compreendemos melhor por que razão, sempre que a verdade e a beleza estão presentes na vida humana, a harmonia e a totalidade, a felicidade e a alegria, a integridade e o equilíbrio ocorrem automaticamente.
Daí que a injustiça social, a degradação ambiental, os conflitos religiosos e raciais, o terrorismo e as guerras se apresentem como fontes de profunda fealdade, pois revelam uma rotura na verdadeira relação entre o indivíduo e a sociedade, entre o produtor e o consumidor, entre governantes e cidadãos, e entre a humanidade e o mundo natural.
Continuar a lerCada um de nós é a expressão de um universo vivo. O universo é consciente, autorregulado, capaz de renovação, evoluindo sempre para níveis crescentes de complexidade e de criatividade.
Através de nós, o universo está cada vez mais consciente de si próprio. Somos seres de luz, amor, harmonia e felicidade. Evoluímos rumo à consciência da unidade, na qual nos experimentamos como seres cósmicos que participam na evolução do universo.
Continuar a lerO feminismo e a feminilidade não são mutuamente exclusivos e é injusto sugerir que o são. Infelizmente, as mulheres foram ensinadas a ter vergonha e a desculpar-se por interesses que são vistos como tradicionalmente femininos, tais como a moda e a maquilhagem.
Contudo, a nossa sociedade não espera que os homens sintam o mesmo em relação a interesses considerados masculinos, tais como carros desportivos e alguns desportos profissionais. Nem considera que o cuidado que um homem tem com o vestuário seja tão suspeito como o de uma mulher.
Um homem bem vestido nunca se preocupa que, pelo facto de estar bem vestido, sejam feitas certas conjeturas acerca da sua inteligência, capacidades ou integridade.
Por outro lado, uma mulher tem de ter sempre cuidado com o facto de o seu batom poder parecer demasiado berrante ou de a sua indumentária cuidada poder dar a entender que é uma pessoa frívola. Continuar a ler
As alterações climáticas exigem que consumamos menos, mas sermos consumidores é tudo o que sabemos fazer. As alterações climáticas não são um problema que possa ser simplesmente resolvido alterando o que compramos — um híbrido em vez de um todo-o-terreno, algumas compensações de carbono quando viajamos de avião. O seu cerne é uma crise resultante do consumo excessivo das pessoas comparativamente ricas, o que significa que os consumidores mais frenéticos vão ter de consumir menos para que os outros possam ter o suficiente para viver.
Dessincronias
A crise do clima foi incubada nos nossos regaços num momento da história em que as condições políticas e sociais eram singularmente hostis a um problema desta natureza e magnitude — o final da década de 1980, o ponto da explosão da cruzada para disseminar o capitalismo desregulado por todo o mundo.
I
No crepúsculo do século XX, dizia-se que o mundo passaria a ser marcado por um “confronto entre civilizações” e especialmente entre religiões. Por mais angustiante que seja, essa previsão não foi negada pelos factos. Onde nos enganámos profundamente foi em supor que esse “choque” entre diferentes espaços culturais fortaleceria a coesão no interior de cada um deles. Ora, aconteceu o oposto. O que carateriza hoje a humanidade não é uma tendência para se reagrupar em conjuntos vastos, mas uma propensão à fragmentação, ao fracionamento, frequentemente com violência e acrimónia.
Naquela manhã de primavera o inesperado aconteceu, o velho monge não conseguiu voar. Havia feito suas abluções, havia meditado longamente e longamente repetido as palavras sagradas. Havia elevado o espírito, mas o corpo, ah! o corpo não abandonara seu peso.
Com certeza, pensou o velho penitenciando-se, faltou-me a fé. E humildemente voltou a purificar-se na água gelada e, nu no ar cortante, orou até sentir-se tomado pelo calor de mil sóis. Mas, luminosa embora sua alma, não houve meio do corpo pairar acima do chão.
Na minha primeira infância, gostava de construir casas com pequenas peças e toda a espécie de brinquedos. Usava muitas vezes um livro ilustrado a fazer de telhado.
Nos meus sonhos, entrava na casa, deitava-me na cama feita com uma caixa de fósforos e olhava para cima, para as nuvens ou para as estrelas do céu.
Vou chamar-lhe Walter, embora esse não seja o seu verdadeiro nome.
Walter era uma criança esperta que não se empenhava muito nos estudos.
Um dia, a sua vida mudou radicalmente. O pai abandonou-o e aos irmãos, deixando a mãe com três rapazes para cuidar. Como o Estado não fornecia qualquer tipo de apoio a mães trabalhadoras, a mãe de Walter trabalhava em vários lados a fim de assegurar o sustento dos filhos. À medida que as férias grandes se aproximavam, começou a preocupar-se com os perigos a que os filhos estariam sujeitos ao vaguear pelas ruas enquanto ela trabalhava. Continuar a ler
É verdade que há medo. É verdade que há isolamento. É verdade que há açambarcamento. É verdade que há doença. É verdade que há mesmo morte.
Mas há quem diga que, em Wuhan, depois de tantos anos de ruído, é possível, de novo, ouvir os pássaros.
Há quem diga que, após algumas semanas de silêncio, o céu já não está tão poluído e voltou a ser azul e nítido.
Segunda-feira à noite, 8 de novembro de 1943
Querida Kitty,
Vejo-nos aos oito, aqui no anexo, como se fôssemos um pedaço de céu azul rodeado por ameaçadoras nuvens negras. O local perfeitamente circular onde nos encontramos ainda é seguro, mas as nuvens estão a avançar sobre nós, e o anel que nos separa do perigo que se aproxima é cada vez mais estreito. Estamos rodeados por escuridão e perigo e, na nossa busca desesperada de uma saída, vamos constantemente de encontro uns aos outros. Olhamos para a guerra por baixo de nós e para a paz e beleza por cima. Entretanto fomos isolados pela massa escura de nuvens e não podemos subir nem descer. Esta ergue-se à nossa frente como uma parede impenetrável, tentando esmagar-nos, mas ainda sem o conseguir. Posso apenas gritar e implorar:
— Oh, anel, anel, abre-te e deixa-nos sair!
Tua, Anne*
Já em criança a vaca Glória era mais gorda do que as outras vacas. E isto foi-se acentuando à medida que crescia. Os lábios eram carnudos, o nariz largo, a cabeça tão grande como uma abóbora (por acaso era até maior) e, ainda por cima, tinha umas pernas fortes, pelos grossos e duros e pés pesados.
Era uma vez uma jovem que estava à espera do seu voo na sala de embarque de um grande aeroporto.
Como tinha de esperar longas horas, resolveu comprar um livro para ocupar o tempo. Comprou também um pacote de bolachas.
A filha queixava-se ao pai acerca da sua vida e de como tudo lhe era tão difícil. Não sabia como fazer para seguir em frente e acreditava que acabaria por desistir, dando-se por vencida perante as dificuldades. Estava cansada de lutar. Parecia-lhe que sempre que solucionava um problema logo aparecia outro.
I
João Grande regressava a casa no final de um dia de trabalho. Estava cansado, mas satisfeito. Naquele dia, conseguira colar todos os cartazes que lhe tinham sido entregues. E foram muitos. Grandes. Pequenos. Imagens divertidas. Longos discursos que nunca mais acabavam.
Ler. Ler histórias durante o período de confinamento que temos de atravessar
em nome do regresso à vida.
Para voltarmos a ela o mais rapidamente possível.
Neste período insólito que estamos a atravessar em Espanha (e “no mundo em geral”) aprendemos muitas coisas em poucos dias: palavras de cunho recente, como “coronavírus” – e a sua variante química, COVID-19 – interpretações de diagramas perturbadores sobre a evolução da doença em diferentes países, nomes de virologistas, comportamentos de microrganismos, novas síndromes que se avizinham… Cada fenómeno que surge traz consigo o seu próprio glossário.
Toni estava saturado de andar às voltas no templo de Karnak, no meio do grupo de turistas.
As sandálias, cheias de areias e de pequenas pedras, feriam-lhe os pés, e a mãe tinha-o obrigado a vestir calções e a calçar peúgas. Para cúmulo, tinha ainda de usar um chapéu de palha de aba larga, para se proteger do sol. Tanto ele como a mãe eram os únicos na família que tinham aquela cor delicada, muito branca, herdada de um antepassado caucasiano longínquo. Toni sentia-se ridículo vestido daquela forma.
Se nos vissem sentados na nossa mesa de cozinha, feita à mão e toda arranhada, saberiam logo que não somos ricos. Mas o meu pai está a tentar fazer-nos ver que somos.
Será que não vê os meus sapatos gastos? Ou que o meu irmãozinho tem remendos nas calças que leva para a escola? E como explicará ele aquela carrinha a desfazer-se, estacionada à nossa porta?
Sê parte do milagre do momento.
Thich Nhat Hanh
O meu pai e eu caminhávamos muitas vezes juntos, mas depois de ele ter passado pelas cirurgias de bypass cardíaco e das costas, tivemos que encarar a realidade de os seus dias de longas caminhadas terem acabado aos setenta anos. No entanto, por milagre, apenas um ano após estes revezes, ele conseguiu acompanhar-me através do País de Gales, num percurso de cerca de 300 quilómetros, de costa a costa.
Quem sabe um dia a vida tenha sido
a duas cores
duas
das que se guardam no arco-íris
Em janeiro, quando a Menina McGillicuddy estava a fazer uma colcha em frente da lareira, reparou numa forma invulgar do lado de fora da janela da sua sala de estar.
Em fevereiro, quando a Menina McGillicuddy levantou os olhos do seu livro, percebeu que a forma era uma pequena árvore. “Uma dádiva dos passarinhos,” disse para consigo mesma.