O maltrato subtil

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O maltrato subtil

Num qualquer dia, numa qualquer cidade, num qualquer país, nasceu uma linda menina, cujos olhos maravilhosos observavam tudo em redor.

Quando começou a andar pela cidade, as pessoas disseram-lhe que, para ser bonita, tinha de usar vestidos bonitos. E ela deixou de se sentir bonita quando não tinha posto um vestido bonito.

Quanto à cor da pele, aconselharam-na a mudá-la, para ser mais bonita, e ensinaram-na a maquilhar-se. A partir desse dia, a menina nunca mais se sentiu bonita se não estivesse maquilhada.

Outro reparo que lhe fizeram foi relativo à altura. Se não fosse mais alta, não seria bonita. A menina começou, então, a usar saltos altos, com grande sacrifício. Aliás, se não calçasse sapatos de tacão, sentia-se sempre baixa e insignificante.

Claro que para ser bonita tinha de ser magra. Assim, nunca mais pôde comer aquilo de que gostava sem se sentir sempre culpada.

E também lhe falaram do cabelo, da cintura, do peito. Deste modo, a menina começou a sentir-se tão feia que todos os dias despendia mais tempo e fazia mais sacrifícios para se sentir um pouco mais bonita.

Acabou por estragar a pele por causa da maquilhagem diária, por deformar os pés por causa dos saltos altos, que usava constantemente, e por ficar debilitada para poder continuar magra segundo os padrões que lhe exigiam.

Tinham-lhe ensinado a não gostar de si como era e a usar sempre artifícios para ser digna do apreço dos outros.

Até que chegou o dia em que começou a ter medo de que os outros descobrissem como era realmente. Sentindo-se feia, apaixonou-se por um rapaz que a tratava como se não fosse digna dele, atitude que ela achou normal. Sentindo-se feia e sem conseguir aceitar-se, passou a permitir que a maltratassem.

Nunca te esqueças de que a verdadeira beleza é uma atitude, e de que és sempre uma pessoa lindíssima quando és autêntica.

Diego Jiménez