Os homens-ilha
Paulo Alexandre Brito Pais Gaspar
As cidades têm conhecido, através do tempo, modalidades diversas de diferenciação social. Nos tempos de hoje, às portas do novo milénio, podemos afirmar, convictamente, que o projecto de modernidade invadiu tudo e todos. Apesar de tal afirmação não poder ser contestada nem pelos mais críticos, devemos ter também consciência dos custos dessa modernidade.
Com efeito, em termos sociais tem existido também uma evolução, mas no sentido inverso ao desejado. As assimetrias, cada vez mais têm sido postas em relevo, de tal modo, que, hoje, a cidade está cheia de “ilhas de exclusão”, bem visíveis, mesmo aos olhos dos menos atentos. Ilhas onde vivem seres humanos, afinal homens que também merecem ter oportunidades para serem felizes. Homens que aguardam a sua vez para fugir ao estado de Exclusão Social a que foram “condenados” por alguns daqueles que vivem no exterior dessas ilhas. Homens que aguardam o auxílio de outros homens, afinal seus companheiros da viagem.
De acordo com esta realidade, os rostos excluídos vão-se multiplicando a um ritmo assustador, que vão tornando a viagem, que se pretendia harmoniosa e bonita, carregada de contornos sombrios onde cada vez menos se sorri.
Paulo Alexandre Brito Pais Gaspar
In: As cidades e os rostos da exclusão
Universidade Portucalense – Educação Social, Porto, 1999