Criticar em vez de comunicar. Fazer juízos de valor ou juízos de intenção

María Jesús Álava Reyes
A arte de arruinar a sua própria vida
Lisboa, A Esfera dos Livros, 2007
(excertos adaptados)

Criticar em vez de comunicar. Fazer juízos de valor ou juízos de intenção

Palavras para quê? De certeza que ninguém defende a crítica como substituto da comunicação; ou os juízos de valor ou de intenção como moeda de troca da ponderação e da argumentação contrastada.

No entanto, todos sabemos que nos movemos numa sociedade tremendamente competitiva, que potencia algumas artimanhas, tais  como a crítica, os boatos, os comentários pouco razoáveis, os juízos de valor isentos do mínimo rigor… No meio de tanta mentira, podemos perguntar-nos se podemos fazer alguma coisa para melhorar a situação.

Ajudar-nos-á recordar que as críticas só contribuem para diminuir a nossa capacidade de análise, e os juízos de valor enfraquecem o nosso intelecto, aumentando a possibilidade de sermos injustos ou de nos equivocarmos.

Em ambos os casos, as melhores alternativas serão:

• Argumentar em vez de criticar.
• Reflectir e respeitar em vez de julgar.

Mas, o que devemos fazer se somos nós quem recebe críticas ou juízos injustos? Logicamente, a resposta variará em função das circunstâncias que contextualizem cada caso. Mas devemos mostrar a nossa discordância em relação ao facto, pois uma coisa é defender uma opinião e outra é criticar ou desqualificar.

Às vezes há críticas cuja única resposta contundente que merecem é o nosso silêncio. Nessas ocasiões, mais do que cobardia, o silêncio mostrará falta de interesse, o nulo valor que atribuímos à crítica e que nos leva a não nos preocuparmos em verbalizar nada.

Noutras ocasiões, quando temos à nossa frente uma pessoa que nos faz abertamente uma crítica, as técnicas assertivas já nos indicaram como agir; no entanto, não esqueçamos que quando nos criticarem, seja com boa ou má intenção, manteremos sempre o olhar fixo no nosso interlocutor e dar-lhe-emos sinais de escuta activa; posteriormente, decidiremos qual será a nossa resposta.

Às vezes, quando acreditamos que a crítica é injusta, mas que a pessoa que a formula não está à ponderação ou ao diálogo, que a única coisa que pretende é que nos sintamos mal, esse mesmo olhar fixo, prolongado no tempo, acompanhado de um gesto amplo, com as mãos abertas, poderá dar azo a uma verbalização muito breve, do estilo de: «É tudo?» A seguir, deixando o nosso interlocutor ainda surpreendido, centrar-nos-emos ostensivamente noutra actividade: de repente deixaremos de olhar para ele e, se tenta continuar a argumentar alguma coisa, olharemos para ele com cara de que já tivemos paciência suficiente e voltaremos – sem dizer uma palavra – a fazer o que estávamos a fazer.

Nestes casos, é importante não acrescentar nada quando já lhe retirámos a nossa atenção, pois significaria retirar força à nossa mensagem; além disso, estaríamos a dar ao nosso interlocutor um protagonismo e uma atenção que ele não merece.

Quando tentarem fazer-nos cúmplices das habituais críticas, boatos ou juízos de valor sobre outras pessoas, quase sempre será melhor sorrirmos e mudarmos ostensivamente de conversa, para demonstrarmos que não suscita o nosso interesse. Se os presentes se empenharem em continuar com o assunto, aqui sim, podemos mostrar gestualmente o nosso desconforto com a conversa e, em algumas ocasiões, devemos ser ainda mais contundentes e, tranquilamente, começar a fazer outras coisas.

Criticar é fácil, não cair em críticas é complicado, mas deixar de alimentar as críticas destrutivas é um exercício de justiça básico que convém começar a praticar.

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