Táxi – António Torrado

Deram ao cachorrinho o nome de “Táxi”. Com tantos nomes disponíveis, logo foram escolher este! Mas ele não se importava.

— Táxi! — chamavam.

E ele vinha, a dar ao rabo, sempre contente.

Mas eram os donos de má qualidade. Gostavam de brincar com o cachorrinho, pois gostavam, mas quando o viram crescer e transformar-se num grande cão disseram:

— O Táxi só está a estorvar. Não podemos mantê-lo cá em casa.

Abandonaram-no. Há gente assim, sem coração.

O Táxi viu-se no meio de uma rua, com grande movimento, e desorientou-se.

Cheirou o ar e não deu com o caminho de casa. Nem valia a pena.

Supomos que o Táxi suspeitava que já o não queriam. Tinha de conformar-se. Ia ser um cão vadio, um cão de rua, um Táxi sem dono nem passageiro.

— Táxi — chamaram, perto.

Ele acorreu ao chamamento.

— Sai daqui, cão — enxotou-o uma senhora, que ia a apanhar um táxi.

— Táxi — chamaram, mais adiante.

O cão não se fez esperar, mas um senhor cheio de embrulhos, que ia a entrar num táxi, deu-lhe um pontapé.

Ele não percebia. Chamavam-no e logo o rejeitavam. Gente esquisita.

De desilusão em desilusão, foi ter a uma praça de táxis. Mero acaso. Um motorista, que estava à espera de freguês, partilhou com ele uma bucha com queijo.

— Como te chamas? — perguntou-lhe o motorista por perguntar.

Se ele pudesse responder… Fosse como fosse, talvez por afinidade, foi-se deixando ficar. Os motoristas acharam graça à alegre pressa com que ele se levantava dos quartos traseiros quando alguém pedia um táxi.

— É cá dos nossos — diziam.

E adoptaram-no. Continuava a ser um táxi livre, sem dono, mas protegido por uma quantidade de amigos.

Afinal, o nome Táxi sempre lhe valera para alguma coisa.

António Torrado

(adaptado)

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