Arquivo da Categoria: paz / guerra
A Paz

Costumamos pensar na paz como sendo a ausência de guerra. Achamos que, se os países poderosos reduzissem os seus arsenais bélicos, poderíamos ter paz.
Contudo, se observarmos as armas de perto, poderemos ver nelas as nossas próprias mentes, preconceitos, medos e ignorância.
Continuar a lerAnne Frank
Segunda-feira à noite, 8 de novembro de 1943
Querida Kitty,
Vejo-nos aos oito, aqui no anexo, como se fôssemos um pedaço de céu azul rodeado por ameaçadoras nuvens negras. O local perfeitamente circular onde nos encontramos ainda é seguro, mas as nuvens estão a avançar sobre nós, e o anel que nos separa do perigo que se aproxima é cada vez mais estreito. Estamos rodeados por escuridão e perigo e, na nossa busca desesperada de uma saída, vamos constantemente de encontro uns aos outros. Olhamos para a guerra por baixo de nós e para a paz e beleza por cima. Entretanto fomos isolados pela massa escura de nuvens e não podemos subir nem descer. Esta ergue-se à nossa frente como uma parede impenetrável, tentando esmagar-nos, mas ainda sem o conseguir. Posso apenas gritar e implorar:
— Oh, anel, anel, abre-te e deixa-nos sair!
Tua, Anne*
Estrela amarela
No meu bolso
Eu tinha sete anos e meio quando o meu visto foi carimbado,
a 26 de Julho de 1939.
Houve aproximadamente 10000 crianças como eu que, no início da Segunda Guerra Mundial, vieram para a Grã-Bretanha.
Algumas eram ainda bebés. A maioria de nós era judia.
Cada uma tinha um lugar num transporte para crianças que nos levava para
longe da Europa Nazi.
História banal
Continuar a ler em: www.umareflexao.wordpress.com
Natal nas trincheiras
A única coisa que separava os dois exércitos, naquela noite fria de Dezembro de 1914, era um pedaço de terra lamacenta chamado Terra de Ninguém. De repente, um cântico rompeu o ar gelado, celebrando o Natal em alemão, e logo um outro
se lhe seguiu, em inglês.
Durante algum tempo, os inimigos deixaram de se guerrear e comportaram-se como amigos. Estima-se que, nesta trégua de Natal não oficial,
participaram cerca de cem mil soldados.
Foi um momento único na história da humanidade. Continuar a ler
O clarão de Hiroshima
Hiroshima no Pika
(O clarão de Hiroshima)
Naquela manhã, o céu de Hiroshima estava azul e sem nuvens. O sol brilhava. Os eléctricos tinham começado o seu giro, apanhando as pessoas a caminho do trabalho. Os sete rios de Hiroshima deslizavam serenamente pela cidade. Os raios do sol estival cintilavam na superfície dos rios.
Tinha havido ataques aéreos em Tóquio, Osaka, Nagoya e em muitas outras cidades japonesas. A população de Hiroshima perguntava-se por que motivo a sua cidade fora poupada. Haviam feito o que podiam para se prepararem para um eventual ataque. A fim de evitar que o fogo se propagasse, tinham demolido os edifícios antigos e alargado as ruas. Tinham armazenado água e decidido onde deviam refugiar-se para escapar às bombas. Todos traziam consigo estojos de primeiros-socorros e, sempre que saíam de casa, usavam chapéus e capuzes para protegerem a cabeça dos ataques aéreos.
▲▲▲
Mii tinha sete anos e vivia em Hiroshima com a mãe e o pai. Ela e os pais estavam a tomar o pequeno-almoço: batatas-doces, trazidas no dia anterior por uns primos que moravam no campo. Nessa manhã, Mii estava com muita fome e comentava como lhe sabiam bem as batatas-doces. O pai concordava que era um delicioso pequeno-almoço, embora não se tratasse de arroz, o seu alimento preferido.
Foi então que aconteceu. Um clarão terrível e repentino iluminou tudo à volta. A luz era de um cor-de-laranja claro, depois ficou branca, como se milhares de raios estivessem a cair todos ao mesmo tempo. Seguiram-se violentas ondas de choque, os edifícios estremeceram e começaram a desabar.
Momentos antes do Clarão, o bombardeiro Enola Gay, da força aérea norte-americana, sobrevoara a cidade e lançara um explosivo ultra-secreto. O explosivo era uma bomba atómica, que a tripulação do B-29 baptizara de “Little Boy” [Rapazinho]. .
O “Little Boy” caiu em Hiroshima às 8:15 da manhã do dia 6 de Agosto de 1945.
Mii caiu por terra, inconsciente, devido ao impacto do Clarão. Quando acordou, tudo à sua volta permanecia silencioso e escuro. A princípio não conseguia mexer-se e ouvia barulhos de crepitação que a assustaram. Ao longe, na escuridão, via um reluzir vermelho. A voz da mãe penetrou na escuridão, chamando-a. Mii lutou para sair de debaixo das pesadas tábuas que lhe tinham caído por cima. A mãe precipitou-se para ela, puxou-a e abraçou-a.
― Temos de nos despachar ― disse. ― O fogo… o teu pai ficou preso nas chamas!
Mii e a mãe olharam para as chamas e começaram a rezar. Em seguida, a mãe saltou para as chamas e arrastou o marido até este ficar a salvo. Mii viu a mãe a examinar o pai.
― Está gravemente ferido ― disse.
Desapertou a faixa do quimono e enrolou-a em volta do corpo do marido como uma ligadura. Em seguida, fez algo de espantoso. Pô-lo às costas e desatou a correr, levando Mii pela mão.
― O rio. Temos de chegar ao rio ― disse de forma determinada.
Desceram os três aos tombos pela margem do rio até à água. Mii largou a mão da mãe.
― Mii-chan! Agarra-te a mim! ― gritou a mãe.
Havia uma multidão de pessoas a fugir do fogo. Mii viu crianças com a roupa queimada, os lábios e as pálpebras inchados. Pareciam fantasmas, vagueando por ali, a chorar com voz fraca. Algumas pessoas, já sem forças, caíam de bruços e outras caíam-lhes por cima. Havia corpos empilhados por todo o lado. Mii, a mãe e o pai continuaram a fuga e atravessaram outro rio. Quando alcançaram a margem, a mãe pousou o marido e caiu por terra, ao lado dele. Mii sentiu uma coisa a passar-lhe aos pés. Hop… hop… Era uma andorinha. Tinha as asas queimadas e não podia voar. Viu um homem a boiar rio abaixo. Atrás dele, flutuava o corpo de um gato.
Mii virou-se e viu uma mulher jovem a chorar, segurando um bebé.
― Conseguimos fugir até aqui e então parei para lhe dar de comer ― disse ela. ― Mas ele não bebeu o leite. Está morto.
Continuando a segurar o bebé, a mulher entrou pelo rio dentro. Avançou cada vez mais até que Mii deixou de a ver. O céu foi ficando escuro e ouviu-se o ribombar de um trovão. Começou a chover. Embora se estivesse em pleno Verão, o ar tornara-se muito frio e a chuva era negra e viscosa. Em seguida, apareceu no céu um arco-íris, afastando a escuridão. Resplandecia, brilhante, por sobre os mortos e os feridos.
A mãe de Mii voltou a pôr o pai às costas. Tomou Mii pela mão e recomeçaram a correr. O fogo vinha na direcção deles, a grande velocidade. Correram por entre montes de telhas partidas, por sobre postes e fios de telefone caídos. Havia casas a arder de ambos os lados. Chegaram a outro rio e, já dentro de água, Mii sentiu-se de repente cheia de sono. Antes mesmo de se dar conta, tinha engolido imensas goladas de água. A mãe puxou-lhe a cabeça e manteve-a fora de água. Chegaram à margem e continuaram a correr. Continuar a ler
Tensões étnico-políticas – A Europa no Rescaldo da Segunda Guerra Mundial
Tensões étnico-políticas
A Europa no Rescaldo da Segunda Guerra Mundial
Nas suas memórias do final dos anos 40 e dos anos 50 do século XX, publicadas depois da sua morte na sequência do famoso «assassinato do chapéu-de-chuva», em Londres, no ano de 1978, o escritor dissidente búlgaro Georgi Markov contava uma história emblemática do período do pós‑guerra – não só do seu país mas da Europa como um todo. Envolvia uma conversa entre um dos seus amigos, que tinha sido preso por confrontar um funcionário comunista que tinha passado à frente na fila do pão e um oficial da milícia comunista búlgara:
«E agora diz-me quem são os teus inimigos?», perguntou o chefe da milícia.
K. pensou durante algum tempo e respondeu: «Não sei, acho que não tenho inimigos.»
«Não tens inimigos!» O chefe levantou a voz. «Estás a querer dizer que não odeias ninguém e que ninguém te odeia?»
«Tanto quanto sei, ninguém.»
«Estás a mentir!», gritou, de súbito, o tenente-coronel, levantando-se da sua cadeira. «Que tipo de homem és tu, se não tens inimigos? Claramente não pertences à nossa juventude, não podes ser um dos nossos cidadãos, se não tens inimigos!… E se, de facto, não sabes como odiar, ensinar-te-emos! Ensinar-te-emos muito depressa!»
Em certo sentido, o chefe da milícia desta história tem razão – era praticamente impossível emergir da Segunda Guerra Mundial sem Continuar a ler
Limpeza Étnica – A Europa no Rescaldo da Segunda Guerra Mundial
Limpeza Étnica
A Europa no Rescaldo da Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial nunca foi um mero conflito por território. Foi também uma guerra de raça e etnicidade. Alguns dos acontecimentos que definiram a guerra em nada se relacionavam com a conquista e a manutenção de terrenos físicos, mas com a imposição de um determinado selo étnico num terreno já detido. O Holocausto judeu, a limpeza étnica do Oeste da Ucrânia, a tentativa de genocídio dos sérvios croatas: tais acontecimentos foram levados a cabo com um vigor tão ardente quanto o da guerra militar. Um grande número de pessoas – talvez 10 milhões ou mais – foram deliberadamente exterminadas sem outro motivo que não o facto de pertencerem ao grupo étnico ou racial errado.
O problema para os que procuram esta guerra racial reside no facto de nem sempre ser fácil definir a raça ou etnicidade de uma pessoa, em especial na Europa de Leste, onde diferentes comunidades estavam, muitas vezes, inextricavelmente entrelaçadas. Os judeus que, por acaso, tinham cabelo louro e olhos azuis podiam escapar porque não se enquadravam no preconceituoso estereótipo racial nazi. Os ciganos podiam disfarçar-se como membros de outros grupos étnicos, e faziam-no, bastando mudar a roupa e os comportamentos – o mesmo acontecendo com os eslovacos na Hungria, os bósnios na Sérvia, os romenos na Ucrânia e por aí fora. A forma mais comum de identificar os amigos ou inimigos étnicos – a língua por eles falada nem sempre se mostrava um indicador seguro. Aqueles que tinham crescido em comunidades mistas falavam várias línguas e podiam saltar entre uma e outra, dependendo da pessoa com quem estavam a falar – uma habilidade que terá salvo muitas vidas durante os dias mais sombrios da guerra e do seu rescaldo. Continuar a ler
lman Ahmad Jamas, lutando pela paz no Iraque
IMAN AHMAD JAMAS, lutando pela paz no Iraque
“Serão precisos muitos anos para reconstruir o Iraque.
Será muito difícil.”
Jornalista, tradutora e escritora, Iman Ahmad Jamas criou e dirigiu, em junho de 2003, o Observatório da Ocupação no Iraque, uma iniciativa de organizações internacionais e iraquianas para informar sobre a ocupação dos Estados Unidos e seus efeitos políticos, económicos e sociais, dando conta dos abusos e violações contra a população civil levada a cabo pelas tropas estrangeiras.
Apesar do importante trabalho de documentação e denúncia, o Observatório viu-se obrigado a encerrar em junho de 2004 devido à falta de segurança reinante no país. Refugiada en Espanha, recolheu centenas de testemunhos de torturas e crimes durante a ocupação dos Estados Unidos no seu livro Crónicas do Iraque, publicado en 2006. Em abril de 2007 recebeu em Córdova o Prémio Internacional de Jornalismo, “Julio Anguita Parrado” em reconhecimento pelo seu trabalho.
Povoação a povoação, família a família, Iman Ahmad Jamas percorreu um Iraque em guerra para recolher os testemunhos das vítimas dos desmandos das tropas dos Estados Unidos, durante os primeiros anos da ocupação do país árabe. Mulheres Continuar a ler
Amira Hass
AMIRA HASS, PERITA EM OCUPAÇÃO
O meu trabalho é vigiar o poder.
Oficialmente, é a correspondente para os assuntos palestinianos do diário israelita Aaretz, mas prefere ser conhecida como perita em ocupação. Amira Hass, jornalista israelita nascida em Jerusalém, dá a conhecer aos seus compatriotas o que se passa a poucos quilómetros de suas casas, o que muitos não querem ver. Com residência habitual na cidade da Cisjordânia, em Ramala, mantém na realidade “um romance com Gaza”, segundo as suas próprias palavras. Há já alguns anos que passa temporadas na faixa de Gaza e conta como é viver em estado de sítio.
“O meu desejo de viver em Gaza não se deveu à sede de aventuras ou à loucura, mas ao medo de ser uma observadora passiva, à minha necessidade de compreender até ao último pormenor um mundo que, de acordo com os meus conhecimentos políticos e históricos, é uma criação profundamente israelita. Gaza encarna para mim toda a saga do conflito israelo-palestiniano, representa a principal contradição do Estado de Israel: democracia para alguns, privação para outros”, explica Hass.
Foi pela primeira vez à Faixa de Gaza como voluntária da organização Workers Hotline (Linha Direta de Trabalhadores), que se ocupava em defender os direitos dos trabalhadores palestinianos face aos abusos dos seus empregadores israelitas. E lá regressou, como jornalista, em muitas ocasiões.
A última vez foi Continuar a ler
Tarte para inimigos
Devia ter sido um Verão perfeito. O meu pai ajudara-me a construir uma cabana numa árvore do nosso jardim. A minha irmã tinha ido três semanas para um acampamento. E eu estava na melhor equipa de basebol da cidade. Devia ter sido um Verão perfeito. Mas não foi.
Estava a correr tudo bem até o Cláudio Garcia se ter mudado para o meu bairro, para a casa mesmo ao lado da do Filipe, o meu melhor amigo. Eu não gostava do Cláudio Garcia. Ria-se de mim quando eu perdia no basebol. Deu uma festa em sua casa para saltar na cama elástica, mas não me convidou. Mas ao Filipe, o meu melhor amigo, sim.
O Cláudio Garcia era o único que constava da minha lista de inimigos. Nunca tive sequer uma lista de inimigos até ele ter vindo para cá mas, mal chegou, precisei de uma. Preguei-a na minha cabana, onde ele não podia entrar.
O meu pai era um especialista em inimigos. Contou-me que, na minha idade, também tinha tido inimigos. Mas que conhecia uma forma de nos livrarmos deles. Pedi-lhe que me contasse o segredo.
— Contar-te? Vou mostrar-te — disse o meu pai.
Tirou da estante um livro de receitas muito, muito antigo. Continuar a ler
Sugestões de leitura para adultos – edições brasileiras
A Garota Que Você Deixou Para Trás
Jojo Moyes
Intrínseca, 2014
Jojo Moyes apresenta a comovente história de duas jovens separadas por quase um século no tempo,mas juntas em sua determinação de lutar por aquilo que amam – custe o que custar.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o jovem pintor francês Édouard Lefèvre é obrigado a se separar de sua esposa, Sophie, para lutar no front. Vivendo com os irmãos e os sobrinhos em sua pequena cidade natal, agora ocupada pelos soldados alemães, Sophie apega-se às lembranças do marido admirando um retrato seu pintado por Édouard. Quando o quadro chama a atenção do novo comandante alemão, Sophie arrisca tudo – a família, a reputação e a vida – na esperança de rever Édouard, agora prisioneiro de guerra.
Quase um século depois, na Londres dos anos 2000, a jovem viúva Liv Halston mora sozinha numa moderna casa com paredes de vidro. Ocupando lugar de destaque, um retrato de uma bela jovem, presente do seu marido pouco antes de sua morte prematura, a mantém ligada ao passado. Quando Liv finalmente parece disposta a voltar à vida, um encontro inesperado vai revelar o verdadeiro valor daquela pintura e sua tumultuada trajetória. Ao mergulhar na história da garota do quadro, Liv vê, mais uma vez, sua própria vida virar de cabeça para baixo. Tecido com habilidade, A garota que você deixou para trás alterna momentos tristes e alegres, sem descuidar dos meandros das grandes histórias de amor e da delicadeza dos finais felizes.
A bibliotecária de Auschwitz
Antonio G. Iturbe
Nova Fronteira, 2013
Muitas histórias do horror e sofrimento testemunhados dentro dos campos de concentração nazistas são contadas e recontadas, já estão gravadas e arquivadas. É difícil, nesses relatos, encontrar atos de esperança e força diante de todo o mal registrado durante o Holocausto.
A Bibliotecária de Auschwitz é um livro diferente. É uma história verdadeira e cheia de detalhes a respeito de um professor judeu, Fredy Hirsh, que criou uma escola secreta dentro do bloco 31, no campo de concentração de Auschwitz, dedicando-se a lecionar para cerca de 500 crianças. Criou também uma biblioteca de poucos volumes com a ajuda de Dita Dorachova, uma menina judia de 14 anos que se arriscava para manter viva a esperança trazida pelo conhecimento e escondia os livros embaixo do vestido. É um registro de uma época sofrida da história, mas que também mostra a coragem de pessoas que não se renderam ao terror e se mantiveram firmes usando os livros como “arma”.
Os últimos dias de nossos pais
Joël Dicker
Intrínseca, 2015
Após a frustração de ter tido o Exército britânico encurralado em Dunquerque, Winston Churchill tem uma ideia capaz de mudar o curso da guerra: a criação de uma nova seção do serviço secreto britânico, a SOE (Executiva de Operações Especiais), responsável por conduzir ações de sabotagem e se infiltrar nas linhas inimigas. Algo jamais feito na história. Na esperança de se juntar à Resistência, o jovem Paul-Émile deixa Paris e vai para Londres. Logo recrutado pela SOE, ele se integra a um grupo de franceses que se tornam seus companheiros de coração e de armas. Passando por formações e treinamentos intensos nos quatro cantos da Inglaterra, os selecionados voltarão para a França ocupada para contribuir na resistência. Mas a espionagem alemã está alerta… A existência da SOE por muito tempo foi mantida em segredo. Várias décadas após o fim das atrocidades da Segunda Guerra, Os últimos dias de nossos pais é um dos primeiros romances a abordar sua criação e a relembrar as verdadeiras relações entre a Resistência e a Inglaterra de Churchill. Dicker constrói um livro sobre amor, amizade e medo, com uma profunda reflexão sobre o ser humano e suas fraquezas.
Uma prova do céu
Dr. Eben Alexander
A jornada de um neurocirurgião à vida após a morte
Sextante, 2013
“Minha experiência mostrou que a morte não é o fim da consciência e que a existência humana continua no além-túmulo. E, mais importante ainda, ela se perpetua sob o olhar de um Deus que nos ama e que se importa com cada um de nós.
Cético, defensor da lógica científica e neurocirurgião há mais de 25 anos, o Dr. Eben Alexander viu sua vida virar do avesso quando passou por uma experiência que ele mesmo considerava impossível. Vítima de uma meningite bacteriana grave, ficou em coma por sete dias. Enquanto os médicos tentavam controlar a doença, algo extraordinário aconteceu.
Eben embarcou numa jornada por um mundo completamente estranho. Sem consciência da própria identidade, foi mergulhando cada vez mais fundo nessa realidade difusa, onde conheceu seres celestiais e fez descobertas transformadoras sobre a existência da vida após a morte e a profunda relação que todos nós temos com Deus.
Quando os médicos já pensavam em suspender seu tratamento, o inesperado aconteceu: seus olhos se abriram. Ele estava de volta. Mas nunca mais seria o mesmo. Aquela experiência o levou a questionar tudo em que acreditava até então. Afinal, como neurocirurgião, ele sabia que o que vivenciou não poderia ter sido uma mera fantasia produzida por seu cérebro, que estava praticamente destruído.
Analisando as evidências à luz dos conhecimentos científicos, o Dr. Eben decidiu compartilhar essa incrível história para mostrar que ciência e espiritualidade podem e devem andar juntas.
Narrado com o fascínio de um paciente que visitou o outro lado e com a objetividade de um médico que tenta comprovar a veracidade de sua experiência, este é um livro emocionante sobre a cura física e espiritual e a vida que se esconde nas diversas dimensões do Universo.”
Hereges
Leonardo Padura
Boitempo, 2015
O ponto de partida é um episódio real: a chegada ao porto de Havana do navio S.S. Saint Louis, em 1939, onde se escondiam 900 refugiados vindos da Alemanha. A embarcação passou vários dias à espera de uma autorização para o desembarque. No romance, o garoto Daniel Kaminsky e seu tio, aguardavam nas docas, trazendo um pequeno quadro de Rembrandt que pertencia à família desde o século XVII e que esperavam utilizar como moeda de troca para garantir o desembarque da família que estava no navio. No entanto, o plano fracassa, a autorização não é concedida, e o navio retorna à Alemanha, levando também a esperança do reencontro. Quase setenta anos depois, em 2007, o filho de Daniel, Elías, viaja dos Estados Unidos a Havana para esclarecer o que aconteceu com o quadro e sua família.
O Homem que Amava os Cachorros
Leonardo Padura
Boitempo, 2013
A história é narrada, no ano de 2004, pelo personagem Iván, um aspirante a escritor que atua como veterinário em Havana e, a partir de um encontro enigmático com um homem que passeava com seus cães, retoma os últimos anos da vida do revolucionário russo Leon Trotski, seu assassinato e a história de seu algoz, o catalão Ramón Mercader, voluntário das Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola e encarregado de executá-lo.
Esse ser obscuro, que Iván passa a denominar “o homem que amava os cachorros”, confia a ele histórias sobre Mercader, um amigo bastante próximo, de quem conhece detalhes íntimos. Diante das descobertas, o narrador reconstrói a trajetória de Liev Davidovitch Bronstein, mais conhecido como Trotski, teórico russo e comandante do Exército Vermelho durante a Revolução de Outubro, exilado por Joseph Stalin após este assumir o controle do Partido Comunista e da URSS, e a de Ramón Mercader, o homem que empunhou a picareta que o matou, um personagem sem voz na história e que recebeu, como militante comunista, uma única tarefa: eliminar Trotski. São descritas sua adesão ao Partido Comunista espanhol, o treinamento em Moscou, a mudança de identidade e os artifícios para ser aceito na intimidade do líder soviético, numa série de revelações que preenchem uma história pouco conhecida e coberta, ao longo dos anos, por inúmeras mistificações.
As duas trajetórias ganham sentido pleno quando Iván projeta sobre elas sua própria experiência na Cuba moderna, seu desenvolvimento intelectual e seu relacionamento com “o homem que amava os cachorros”.
O pintassilgo
Donna Tartt
Companhia das Letras, 2014
Theo Decker, um nova-iorquino de treze anos, sobrevive milagrosamente a um acidente que mata sua mãe. Abandonado pelo pai, Theo é levado pela família de um amigo rico. Desnorteado em seu novo e estranho apartamento na Park Avenue, perseguido por colegas de escola com quem não consegue se comunicar e, acima de tudo, atormentado pela ausência da mãe, Theo se apega a uma importante lembrança dela: uma pequena, misteriosa e cativante pintura que acabará por arrastá-lo ao submundo da arte.
Já adulto, Theo circula com desenvoltura entre os salões nobres e o empoeirado labirinto da loja de antiguidades onde trabalha. Apaixonado e em transe, ele será lançado ao centro de uma perigosa conspiração.
O Pintassilgo é uma hipnotizante história de perda, obsessão e sobrevivência, um triunfo da prosa contemporânea que explora com rara sensibilidade as cruéis maquinações do destino.
A odisseia de Homero
Gwen Cooper
Editora Sextante, 2010
Todo mundo que tem gatos sabe que eles são dotados de uma sensibilidade incrível e possuem uma forma peculiar de encarar a vida. Mas Homero tinha muito mais a ensinar.
Abandonado, cego e rejeitado, ele tinha tudo para ser amuado e medroso. Ninguém imaginaria que um gato sem os olhos – que precisaram ser retirados cirurgicamente para garantir sua sobrevivência – seria capaz de levar uma vida normal, com a alegria e a esperteza características dos felinos.
Contrariando todas as expectativas, Homero vivia como se seus olhos não lhe fizessem falta. Era bagunceiro, implicante, temperamental, divertido e dengoso como qualquer outro gato. Gwen Cooper fazia questão de afirmar que ele não era diferente. Mas ele era.
Diferente não por causa da falta de visão, mas por sua capacidade de fazer aflorar nas pessoas o que elas tinham de melhor. Parecia haver em seu espírito uma sabedoria oculta e uma energia latente que inspiravam todos à sua volta.
Homero se tornou o centro do mundo de sua dona. Foi se esforçando para garantir a segurança do seu gato que ela aprendeu a estabelecer a sua própria. Foi preocupando-se com a felicidade dele que Gwen percebeu quanto estava sozinha. E foi lhe oferecendo um amor incondicional que ela permitiu que esse sentimento entrasse em sua vida.
Mais do que um livro divertido e comovente sobre as aventuras de um gatinho, A odisseia de Homero é uma história de superação, de autoconhecimento, de transformação e de crescimento pessoal. Ela vai fazer você rir, se emocionar e compreender que, para conseguir o que queremos da vida, muitas vezes precisamos dar um salto no escuro, da mesma forma que Homero: confiando em nossos instintos e acreditando que sempre cairemos de pé.
O Jardim Secreto de Eliza
Kate Morton
Editora Rocco, 2009
O Jardim Secreto de Eliza – Em 1913, um navio chega à Austrália direto de Londres, trazendo com ele uma menina de quatro anos, absolutamente sozinha, sem um acompanhante adulto sequer. Com ela, apenas uma pequena mala com um livro de contos de fadas. O mistério de quem era a bela garota, que dizia não lembrar seu nome, e de como chegou ao porto, jamais foi desvendado. Em suas memórias ela trazia apenas a imagem de uma mulher que ela chamava de a dama ou a Autora e que dizia que viria buscá-la. Muitos anos depois, em 2005, na cidade australiana de Brisbane, a doce e reservada Cassandra herda de sua avó Nell uma casa na Inglaterra. Surpresa, ela descobre que a casa esconde as origens de sua avó, que foi uma vez a bela menina sem nome perdida no porto.
Enquanto acompanha a viagem de Cassandra para a Inglaterra em busca de suas origens, a autora revela uma trama paralela que se desenrola muitos anos antes do nascimento da menina, quando Nell vê seu mundo cair depois que seu pai revela, às vésperas de seu noivado, que ela não é sua filha verdadeira. A notícia a transforma numa mulher estranha, colecionadora de artigos antigos e raros e que vive numa casa em uma região afastada da Austrália. Seu exílio auto imposto, no entanto, é quebrado quando sua filha deixa a pequena Cassandra a seus cuidados. Revoltada com a filha por ter abandonado a menina, assim como aconteceu com ela quando criança, Nell acaba estreitando laços com a neta.
Um dia, porém, nos idos dos anos 1970, Nell, resolve finalmente reconstituir o caminho de volta a terra de onde veio: Londres. Lá, descobre muitas coisas sobre seu passado, incluindo as lembranças da moça que chamava de A Autora: Eliza Makepeace, uma travessa menina contadora de histórias que tinha sua própria cota de tragédias para viver na Inglaterra da virada do século XIX para o XX. Seria Eliza mãe de Nell? E por que ela a abandonou? Agora, é a vez de Cassandra revirar a pequena mala de segredos da avó e saber o que Nell conseguiu descobrir, se é que ela obteve sucesso em sua busca
Na terra da nuvem branca
Sarah Lark
Europa Editora , 2013
Governanta e professora de uma rica família em Londres, Helen Davenport anseia por um casamento, mas, sem pretendentes e já perto de completar 30 anos, sabe que suas possibilidades não são boas. Quando vê, na sua igreja, um anúncio de um fazendeiro na Nova Zelândia que procura uma mulher solteira e honrada para se casar, não pensa duas vezes. Após uma breve troca de correspondências com o pretendente, decide aceitar a proposta e emigrar.
Não muito longe, no País de Gales, Gwyneira Silkham, filha de um nobre e rico criador de ovelhas, está entediada com sua vida. Durante uma negociação de matrizes com um rico fazendeiro da Nova Zelândia, seu pai aceita o desafio para um jogo de cartas aparentemente inofensivo. Acaba apostando — e perdendo — a mão de sua filha em favor do filho do fazendeiro. Surpreendentemente, em vez de se revoltar, Gwyn vê na distante colônia a chance de uma vida vibrante e plena de aventuras.
Ambientado no século 19, durante o início da colonização inglesa na Nova Zelândia, o romance Na Terra da Nuvem Branca conta a história dessas duas corajosas mulheres que mudam radicalmente suas vidas e partem rumo ao desconhecido. Elas se encontram no navio, durante a longa e perigosa viagem, e começam a construir laços de uma duradoura amizade, que será decisiva na luta para a conquista de seus ideais.
Mesmo sendo uma história ficcional, a autora Sara Lark lança um olhar feminino sobre o momento histórico da colonização e a cultura dos nativos maoris. Destaca ainda a personalidade das mulheres e as dificuldades que enfrentam face às oportunidades que uma terra em formação oferece. E constrói uma saga envolvente e apaixonante.
A cidade do sol
Khaled Hosseini
Editora Nova Fronteira, 2013
Mariam tem 33 anos. Sua mãe morreu quando ela tinha 15 anos e Jalil, o homem que deveria ser seu pai, a deu em casamento a Rashid, um sapateiro de 45 anos. Ela sempre soube que seu destino era servir seu marido e dar-lhe muitos filhos. Mas as pessoas não controlam seus destinos.
Laila tem 14 anos. É filha de um professor que sempre lhe diz: “Você pode ser tudo o que quiser.” Ela vai à escola todos os dias, é considerada uma das melhores alunas do colégio e sempre soube que seu destino era muito maior do que casar e ter filhos. Mas as pessoas não controlam seus destinos. Confrontadas pela história, o que parecia impossível acontece: Mariam e Laila se encontram, absolutamente sós. E a partir desse momento, embora a história continue a decidir os destinos, uma outra história começa a ser contada, aquela que ensina que todos nós fazemos parte do “todo humano”, somos iguais na diferença, com nossos pensamentos, sentimentos e mistérios.
Holocausto brasileiro
Vida, Genocídio e 60 Mil Mortes no Maior Hospício do Brasil
Daniela Arbex
Geração, 2014
Neste livro-reportagem fundamental, a premiada jornalista Daniela Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade.
Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos 33 eram crianças.
A resposta
Kathryn Stockett
Bertrand Brasil, 2011
A Resposta – Uma história de otimismo ambientada no Mississippi em 1962, durante a gestação do movimento dos direitos civis nos EUA.
Eugenia Skeeter Phelan acabou de se graduar na faculdade e está ansiosa para tornar-se escritora, mas encontra a resistência da mãe, que quer vê-la casada. Porém, o único emprego que consegue é como colunista de dicas domésticas do jornal local. É assim que ela se aproxima de Aibellen, a empregada de uma de suas amigas. Em contanto com ela, Skeeter começa a se lembrar da negra que a criou e, aconselhada a escrever sobre o que a incomoda, tem uma ideia perigosa: escrever um livro em que empregadas domésticas negras relatam o seu relacionamento com patroas brancas.
Mesmo com receio de prováveis retaliações, ela consegue a ajuda de Aibileen, empregada que já ajudou a criar 17 crianças brancas, mas chora a perda do próprio filho, e Minny, cozinheira de mão cheia que, por não levar desaforo para casa, já esteve por diversas vezes desempregada após bater boca com suas patroas. Uma história emocionante e estarrecedora onde a cor da pele das pessoas determina toda a sua vida. Um livro que, devido ao seu tema, chegou a ser recusado por quase sessenta editoras antes de ser publicado.
Madassa – o menino que não conseguia aprender a ler
Madassa
Madassa não sabia ler nem escrever.
Madassa tinha a idade que as crianças têm quando sabem ler e escrever.
Mas Madassa não sabia ler nem escrever.
Na cabeça de Madassa não havia lugar para palavras.
Na cabeça de Madassa habitava apenas o medo, escuro e negro, causado pelos barulhos da guerra, e pelos mortos, muitos mortos.
Na cabeça de Madassa vivia uma raiva imensa cheia de porquês.
Como se as perguntas fossem garras dilacerantes.
Na cabeça de Madassa pairava um nevoeiro de tristeza.
Tão espesso que ele não conseguia lembrar-se sequer da cara do irmão ou da irmã, cujo paradeiro ninguém conhecia.
Havia dias em que, na cabeça de Madassa morava a mesma fome que lhe enchia o ventre. A negrura do medo, as garras da raiva, o nevoeiro da tristeza – e, em certos dias, a fome – ocupavam toda a cabeça de Madassa.
Na cabeça de Madassa não havia lugar para as palavras.
A professora já não sabia o que fazer para ajudar Madassa.
Quanto tinha tempo, lia-lhe histórias que ele sozinho não conseguia ler.
Lia-lhe a história do Pequeno Polegar, que tivera tanto medo na floresta.
E o medo do Polegarzinho passeava pela cabeça de Madassa.
Lia-lhe a história de Martinho , que estava sempre irritado.
E a irritação do rapaz era igual à que existia na cabeça de Madassa.
Lia-lhe a história da Menina dos Fósforos.
E a tristeza da Menina chorava na cabeça de Madassa.
A professora contava-lhe também a história de Pedro e a Lua, do menino que queria fazer florir a terra inteira com plumas de pássaro.
E as plumas dançavam na cabeça de Madassa.
E, entretanto, o que acontecia na cabeça de Madassa?
O medo do Polegarzinho deixava palavras para exprimir o medo.
A cólera de Martinho deixava palavras para exprimir a cólera.
A tristeza da Menina dos Fósforos deixava palavras para exprimir a tristeza.
A dança das palavras de Pedro e a Lua deixava palavras que davam vontade de dançar.
Certa manhã, as palavras, fortemente agitadas, não quiseram ficar na cabeça de Madassa.
Então, o menino pegou num caderno, numa caneta, e, embora desajeitadamente, como uma criança que aprende a andar, escreveu:
Madassa medo
Madassa cólera
Madassa tristeza
Madassa por entre as ervas
Madassa ao vento
Madassa na água
Madassa cinzento preto azul
Madassa vermelho amarelo preto
Madassa cinzento amarelo verde
Madassa galo tigre
Madassa sol
─ Um poema! ─ exclamou a professora. ─ Escreveste um poema!
Então escrever é isto!
Pegar nas palavras das histórias e transformá-las nas palavras de Madassa.
Mas é preciso ler muitas histórias para ter muitas palavras.
Madassa começou a ler.
E a escrever também.
Quanto mais lia, mais escrevia.
Quanto mais escrevia, mais vontade tinha de ler.
Era um círculo mágico.
Madassa não sabia ler nem escrever.
Mas enchia agora cadernos e mais cadernos.
Talvez um dia escrevesse um livro.
Madassa escritor.
Michel Séonnet
Madassa
Paris, Ed. Sarcabane, 2003
(Tradução e adaptação)
Sugestões de leitura para adultos – edições portuguesas
O olhar de Sophie
Jojo Moyes
Porto Editora, 2014
Somme, 1916. Sophie vive numa vila ocupada pelo exército alemão, tentando sobreviver às privações e brutalidade impostas pelo invasor, enquanto aguarda notícias do marido, Edouard Lefèvre, um pintor impressionista, que se encontra a lutar na Frente. Quando o comandante alemão vê o retrato de Sophie pintado por Edouard, nasce uma perigosa obsessão que leva Sophie a arriscar tudo – a família, a reputação e a vida.
Quase um século depois, o retrato de Sophie encontra-se pendurado numa parede da casa de Liv Halston, em Londres. Entretanto, Liv conhece o homem que a faz recuperar a vontade de viver, após anos de profundo luto pela morte prematura do marido. Mas não tardará que Liv sofra uma nova desilusão – o quadro que possui é agora reclamado pelos herdeiros, e Paul, o homem por quem se apaixonou, está encarregado de investigar o seu paradeiro…
Até onde estará Liv disposta a ir para salvar este quadro? Será o retrato de Sophie assim tão importante que justifique perder tudo de novo?
Um comércio respeitável
Philippa Gregory
Porto Editora, 2013
1787. Bristol é uma cidade em franco crescimento, uma cidade onde o poder atrai os que estão dispostos a correr riscos. Josiah Cole, um homem de negócios que se dedica ao comércio de escravos, decide arriscar tudo para fazer parte da comunidade que detém o poder na cidade. No entanto, para isso, Cole vai precisar de capital e de uma esposa bem relacionada que lhe abra as portas necessárias. Casar com Frances Scott é uma solução conveniente para ambas as partes. Ao trocar as suas relações sociais pela proteção de Cole, Frances descobre que a sua vida e riqueza dependem do comércio respeitável do açúcar, rum e escravos…
Em Um Comércio Respeitável, Philippa Gregory oferece-nos um retrato vívido e impressionante de uma época complexa onde imperam a ganância e a crueldade que devastaram todo um continente.
A bibliotecária de Auschwitz
Antonio G. Iturbe
Agir, 2014
Minuciosamente documentado, e tendo como base o testemunho de Dita Dorachova, a jovem bibliotecária checa do Bloco 31, este livro conta a história inacreditável, mas verídica, de uma jovem de 14 anos que arriscou a vida para manter viva a magia dos livro, ao esconder dos nazis durante anos a sua pequena biblioteca, de apenas oito volumes, no campo de extermínio de Auschwitz.
Sobre a lama negra de Auschwitz, que tudo engole, Fredy Hirsch ergueu uma escola. Num lugar onde os livros são proibidos, a jovem Dita esconde debaixo do vestido os frágeis volumes da biblioteca pública mais pequena, recôndita e clandestina que jamais existiu.
No meio do horror, Dita dá-nos uma maravilhosa lição de coragem: não se rende e nunca perde a vontade de viver nem de ler, porque, mesmo naquele terrível campo de extermínio nazi, «abrir um livro é como entrar para um comboio que nos leva de férias».
Um romance comovente: uma história maravilhosa, pungente e diferente de tudo o que já leu sobre o Holocausto e de que poucos têm conhecimento.
Os últimos dias dos nossos pais
Joël Dicker
Agir, 2014
Em 1940, Winston Churchill desenha um plano que mudará o curso da guerra: criar uma nova unidade nos serviços secretos — Special Operations Executive (SOE) — que leve a cabo ações de sabotagem a partir do interior das linhas inimigas, uma estratégia jamais vista.
Meses mais tarde, o jovem Paul-Émile parte de Paris rumo a Londres com a esperança de se juntar à Resistência. O SOE não tarda a recrutá-lo, bem como a um grupo de jovens voluntários. Depois de um treino brutal, os poucos eleitos para integrar a nova unidade são enviados para a França ocupada com a missão de treinar forças de resistência. Aí conhecerão o amor, o medo, a coragem e a amizade.
Mas, no Continente, a contra espionagem alemã ameaça toda a operação e o destino dos jovens militares…
Os últimos dias dos nossos pais é um livro profundamente humano e uma verdadeira homenagem à coragem e à lealdade.
Uma prova do céu
Dr. Eben Alexander
O testemunho de um neurocirurgião sobre a vida para além da morte
Lua de Papel, 2013
Em novembro de 2008, um reputado neurocirurgião americano contraiu uma espécie rara de meningite. Levado de urgência para o hospital, entrou em coma. Durante sete dias esteve em morte cerebral. Quando a equipa clínica discutia já a hipótese de desligar a máquina, deu-se o primeiro milagre: o médico despertou.
O segundo milagre, só viríamos a conhecê-lo em Uma Prova do Céu. Nos sete dias em que esteve cerebralmente morto, o neurocirurgião viajou até um território inexplorado – a vida depois da morte. O cético cientista, que durante anos negara a existência de Deus, viu-se confrontado com uma experiência transcendente que lhe deixou marcas profundas. Ao sétimo dia, quando emergiu do coma, soube que a sua vida nunca mais seria a mesma.
Autor de mais de 200 artigos científicos, percebeu que a ciência e o divino podem viver lado a lado. E que, como neurocirurgião, iria continuar a investigar os segredos do cérebro, mas agora munido da certeza de que a vida continua depois da morte.
Hereges
Leonardo Padura
Porto Editora, 2015
Em 1939, o S.S. Saint Louis, onde viajavam novecentos judeus fugidos da Alemanha, passou vários dias ancorado no porto de Havana à espera de autorização para desembarcar. Um rapaz, Daniel Kaminsky, e o tio aguardam no cais a saída dos familiares, confiantes de que estes tentariam os oficiais havaneses com o tesouro que traziam escondido: uma pequena tela de Rembrandt, na posse dos Kaminsky desde o século XVII. Mas o plano fracassou e o transatlântico regressou à Europa, levando consigo qualquer esperança de reencontro e condenando muitos dos seus passageiros.
Volvidos largos anos, em 2007, quando essa tela vai a leilão em Londres, o filho de Daniel, Elías, viaja dos Estados Unidos a Havana para descobrir o que aconteceu com o quadro e com a sua família. Só um homem como o investigador Mario Conde o poderá ajudar. Elías descobre então que o pai vivia atormentado por um crime, e que esse quadro, uma imagem de Cristo, teve como modelo outro judeu, que quis trabalhar no atelier de Rembrandt e aprender a pintar com o mestre.
Hereges é um romance absorvente sobre uma saga judaica que chega até aos nossos dias e que vem confirmar o autor como um dos narradores mais ambiciosos e internacionais da língua espanhola.
O homem que gostava de cães
Leonardo Padura
Porto Editora, 2015
Em 2004, com a morte da mulher, Iván, um aspirante a escritor, relembra um episódio que lhe aconteceu em 1977, quando conheceu um homem enigmático que passeava pela praia acompanhado de dois galgos russos. Após vários encontros, «o homem que gostava de cães» começou a confidenciar-lhe relatos singulares sobre o assassino de Trótski, Ramón Mercader, de quem conhecia pormenores muito íntimos. Graças a essas confidências, Iván irá reconstituir a trajetória de Liev Davídovitch Bronstein, mais conhecido por Trótski, e de Ramón Mercader, e de como se tornaram vítima e verdugo de um dos crimes mais reveladores do século XX.
Através de uma escrita poderosa sobre duas testemunhas ambíguas e convincentes, Leonardo Padura traça um retrato histórico das consequências da mentira ideológica e do seu poder destrutivo sobre a utopia mais importante do século XX.
O pintassilgo
Donna Tartt
Editorial Presença, 2015
Theo Decker, um adolescente de 13 anos, vive em Nova Iorque com a mãe, com quem partilha uma relação muito próxima e que é a figura parental única, após a separação dos pais pouco antes do trágico acontecimento que dá início a este romance. Theo sobrevive inexplicavelmente ao acidente em que a mãe morre, no dia em que visitavam o Metropolitan Museum. Abandonado pelo pai, Theo é levado para casa da família de um amigo rico. Mas Theo tem dificuldade em se adaptar à sua nova vida em Park Avenue, e sente uma dor profunda pela falta da mãe. É neste contexto que uma pequena e misteriosa pintura que ela lhe tinha mostrado no dia em que morreu se vai impondo a Theo como uma obsessão. E será essa pintura que finalmente, já adulto, o conduzirá a entrar no submundo do crime.
O Pintassilgo é um livro poderoso sobre amor e perda, sobrevivência e capacidade de nos reinventarmos, uma brilhante odisseia através da América dos nossos dias, onde o suspense e a arte são dois elementos decisivos para prender o leitor.
A odisseia de Homer
Gwen Cooper
Pergaminho, 2011
A última coisa que Gwen Cooper queria era adotar outro gato. Já tinha duas gatas, para não falar de um emprego em que lhe pagavam uma miséria, e estava a tentar recuperar de uma separação difícil. Até que a veterinária das suas gatas ligou para lhe falar de um gatinho de três semanas, abandonado e maltratado, cujos olhos tiveram de ser retirados cirurgicamente. Gwen era a sua última esperança de encontrar um lar. Foi amor à primeira vista. O gatinho era uma bola de pêlo mínima, preta e assustada e, mesmo tendo consciência das dificuldades que ele enfrentaria por causa da sua cegueira, Gwen decidiu adotá-lo — e ele tornou-se os olhos pelos quais ela passaria a ver o mundo.
Batizado de «Homer» — uma homenagem ao poeta grego supostamente cego, criador da Odisseia e do seu herói, Ulisses — este gatinho cresceu até se tornar um animal forte, confiante, cheio de entusiasmo e com uma vontade inesgotável de brincar! Mas foi a lealdade inabalável de Homer, com sua capacidade ilimitada de amar e o seu exemplo de força, superação e coragem, que levou Gwen a mudar a sua vida. E, quando conheceu o homem com quem viria a casar, Gwen percebeu que Homer lhe tinha ensinado a lição mais importante da vida: que o amor não é algo que possa ser visto com o olhar.
O jardim dos segredos
Kate Morton
Porto Editora, 2014
Uma criança perdida: em 1913 uma criança é encontrada só, num barco que se dirigia à Austrália. Uma mulher misteriosa prometera tomar conta dela, mas desapareceu sem deixar rasto.
Um terrível segredo: no seu 21.º aniversário, Nell Andrews descobre algo que mudará a sua vida para sempre. Décadas depois, embarca em busca da verdade, numa demanda que a conduz até à costa da Cornualha e à bela e misteriosa Mansão Blackhurst.
Uma herança misteriosa: aquando do falecimento de Nell, a neta, Cassandra, depara-se com uma herança surpreendente. A Casa da Falésia e o seu jardim abandonado são famosos nas redondezas pelos segredos que ocultam — segredos sobre a família Mountrachet e a sua governanta, Eliza Makepeace, uma escritora de obscuros contos de fadas. É aqui que Cassandra irá por fim desvelar a verdade sobre a família e resolver o mistério de uma pequena criança perdida.
Um livro marcante, que aborda com mestria a complexidade dos sentimentos humanos.
No país da nuvem branca
Sarah Lark
Marcador, 2014
Londres, 1852. Duas raparigas empreendem uma viagem de barco rumo à Nova Zelândia e tornam-se amigas. Trata-se, para ambas, do início de uma nova vida como futuras esposas de dois homens que conhecem apenas por correspondência. É o começo de uma nova vida com homens que não conhecem. Gwyneira, de origem nobre, está prometida ao filho de um magnata da criação de ovelhas, enquanto Helen, uma jovem precetora, parte para se casar com um fazendeiro. Procuram encontrar a felicidade num país que promete ser o paraíso. No entanto, as ilusões de ambas depressa se esfumam, principalmente quando descobrem que a sua amizade está em perigo porque os maridos são inimigos.
Gwyneira e Helen são mais fortes do que acreditavam ser e rompem com os preconceitos e as restrições da sociedade onde vivem, mas serão capazes de alcançar o amor e a felicidade do outro lado do mundo?
Um romance cativante sobre o amor e o ódio, a confiança e a inimizade, e sobre duas famílias cujo destino está indissoluvelmente unido.
Um presente muito especial
Joanne Huist Smith
Nascente, 2014
Depois da morte inesperada do marido, Joanne sente-se incapaz de retomar a sua vida e de ser o exemplo de força que os seus filhos, Ben, Nick e Megan, precisam mais do que nunca. Com a aproximação da quadra natalícia, tudo parece ainda mais duro de suportar.
Mas, 12 dias antes do Natal, um presente é deixado misteriosamente à porta de casa, acompanhado de um cartão com a assinatura «Os vossos verdadeiros amigos». No dia a seguir, um novo presente, no dia seguinte mais um presente, e assim acontece, até à véspera de Natal.
Estes 12 presentes irão tornar-se uma dádiva de grandeza incomparável e acabam por dar origem a um milagre: a reaproximação entre mãe e filhos e o fortalecimento dos seus laços de amor.
Uma história que aquece o coração e que mostra como simples atos de bondade são capazes de transformar um momento doloroso num caminho de força e amor.
Enquanto houver estrelas no céu
Kristin Harmel
Porto Editora, 2014
Desde sempre, Rose, ao entardecer, olhava o céu em busca da estrela da tarde. Era aquela estrela, agora que a sua memória estava a abandoná-la, que lhe permitia recordar-se de quem era e de onde vinha; que a transportava para os seus dezassete anos, para uma confeitaria nas margens do Sena. Ninguém conhecia a sua história nem sequer a sua neta, Hope. Num dos seus raros momentos de lucidez sente que é importante falar-lhe de um passado longínquo, que manteve em segredo durante setenta anos e que em breve ficará perdido para sempre. Munida de uma lista de nomes e de fragmentos de uma vida, Hope parte para Paris em busca de respostas.
Para Hope esta será também uma viagem de descoberta: de tradições religiosas há muito diluídas, de histórias vividas numa Paris ocupada onde o amor sobrevive e, sobretudo, da sua capacidade de recomeçar e acreditar em si mesma.
Kristin Harmel escreve com tamanha perspicácia e emoção que as personagens que criou permanecem com o leitor muito depois de este terminar o livro.
Mil sóis resplandecentes
Khaled Hosseini
Presença, 2008
Mil Sóis Resplandecentes é um romance pleno de sensibilidade, que tem como pano de fundo as convulsões sociopolíticas que abalaram o Afeganistão nas últimas três décadas.
Mariam e Laila são duas mulheres que a guerra e a morte obrigam a partilhar um marido comum e cuja coragem lhes permitirá lutar pela sua felicidade num cenário impiedoso.
Uma obra inesquecível que evoca o que há de mais intrínseco em todos os seres humanos: o direito ao amor, a um lar e à integridade, e que reflete sobre as relações humanas face à impunidade e às atitudes de tirania.
Não odiarei
Izzeldin Abuelaish
Planeta, 2012
O doutor Izzeldin Abuelaish — agora conhecido com o “Médico de Gaza” — tornou-se conhecido em todo o mundo na sequência de uma terrível tragédia: a 16 de Janeiro de 2009, bombardeiros israelitas atingiram a sua casa na Faixa de Gaza, matando três das filhas e a sobrinha.
Médico palestiniano formado em Harvard, nascido e criado num campo de refugiados na Faixa de Gaza, Abuelaish tem, ao longo de quase toda a sua vida, cruzado as linhas que dividem israelitas e palestinianos, na qualidade de médico que assiste as vítimas de ambos os lados do conflito; como humanista, tem também pugnado pelos direitos das mulheres a melhor saúde e educação, e pelo desenvolvimento no Médio Oriente.
Como pai de três filhas mortas por soldados israelitas, a sua reação a esta tragédia fez notícia e valeu-lhe prémios humanitários em todo o mundo. Em vez de procurar vingança ou de se abandonar ao ódio, tem apelado ao entendimento entre os povos da região, sendo a sua esperança mais profunda a de que as filhas venham a ser “o último sacrifício no caminho para a paz entre palestinianos e israelitas.”
Holocausto Brasileiro
Vida, Genocídio e 60 Mil Mortes no Maior Hospício do Brasil
Daniela Arbex
Guerra e Paz editores, 2014
Em Holocausto Brasileiro, a premiada jornalista de investigação Daniela Arbex resgata do esquecimento esta chocante e macabra história do século XX brasileiro: um genocídio feito pelas mãos do Estado, com a conivência de médicos, funcionários e população, que roubou a dignidade e a vida a 60.000 pessoas.
Bebiam água do esgoto. Comiam ratos. Morriam ao frio e à fome. Eram exterminados com electrochoques tão fortes, que toda a cidade ficava sem luz, por sobrecarga da rede. Os bebés eram roubados às mães logo à nascença. Nos períodos de maior lotação, morriam 16 pessoas por dia dentro dos muros do Colônia. Ao morrer, davam lucro. Os cadáveres eram vendidos às faculdades de medicina. Quando o número de corpos excedia a procura, eram decompostos em ácido, no pátio, diante dos pacientes. Os ossos eram comercializados. Nada ali se perdia. Excepto a vida.
É a essas 60.000 pessoas que Daniela Arbex devolve agora o rosto e a identidade, num relato que recupera o testemunho dos poucos sobreviventes e dá voz aos milhares que já não podem contar a sua própria história. O hospício de Colônia só foi transformado em verdadeiro Centro Hospitalar Psiquiátrico em 1980.
Etty Hillesum: Uma vida transformada
Patrick Woodhouse
Paulinas, 2011
A 9 de março de 1941, uma judia holandesa de 27 anos de idade, chamada Etty Hillesum — que vivia na cidade de Amesterdão, ocupada pelo inimigo — escreveu a sua primeira entrada num diário, que se tornou um dos mais notáveis documentos surgidos do Holocausto nazi. Ao longo dos seguintes dois anos e meio, uma jovem mulher insegura, caótica e perturbada foi transformada numa pessoa que inspirava todos aqueles com quem partilhava o sofrimento do campo de trânsito de Westerbork e com quem viria a perecer em Auschwitz.
Através dos seus diários e cartas, ela continua a ser alguém de profundamente inspirador: uma jovem extraordinariamente viva e expressiva, que viveu uma espiritualidade de esperança no período mais sombrio do século XX.
Etty Hillesum: uma vida transformada explora a vida e os escritos de Etty, revelando-a como uma figura assombrosamente contemporânea.
As serviçais
Kathryn Stockett
Saída de Emergência, 2013
Skeeter tem vinte e dois anos e acaba de regressar da universidade. Pode ter uma licenciatura, mas estamos em 1962, no Mississípi, e a sua mãe só a irá deixar em paz quando a vir com uma aliança no dedo. Provavelmente a jovem encontraria conforto junto da sua adorada Constantine, a empregada negra que a criou, mas esta foi embora e ninguém lhe diz para onde.
Aibileen é uma empregada negra que criou dezassete crianças brancas. Mas desde que o seu próprio filho morreu, algo mudou dentro de si. Quem a conhece sabe que tem um grande coração e uma história ainda maior para contar. Minny, a melhor amiga de Aibileen, é a mulher com a língua mais afiada do Mississípi. Cozinha divinamente, mas tem sérias dificuldades em manter o emprego… até ao momento em que encontra uma nova e insólita patroa.
Estas três personagens extraordinárias vão cruzar-se e iniciar um projeto clandestino que as vai colocar a todas em perigo. E porquê? Porque estão a sufocar com as barreiras que definem a sua cidade, o seu tempo e as suas vidas.
O Soldado João – Luísa Ducla Soares
O Soldado João
Era uma vez um soldado chamado João. Vinha de sachar milho, de regar cravos, de semear couves e manjericos.
Agora, toca a marchar, de espingarda ao ombro, mochila às costas, botas de cano, farda a rigor.
Pelos campos fora, o soldado João era a vergonha dos batalhões. Trazia uma flor ao peito, punha as mãos nas algibeiras, coçava o nariz, não acertava o passo. E, para cúmulo, assobiava ou cantava modinhas da sua aldeia.
Bem lhe ralhava o sargento, o ameaçava o capitão, o castigava o general.
O soldado João continuava a marchar, feliz e desengonçado, como se fosse à feira comprar gado ou ao mercado vender feijão.
Mas tanto, tanto marchou o soldado João, que chegou à terra da guerra.
Todos os soldados carregaram as espingardas e fizeram pontaria. Mas o soldado João achou indelicado não ir cumprimentar os colegas da outra banda. Pousou a arma, saltou a trincheira, avançou estendendo a mão.
Então, os outros soldados, espantados, estenderam também a mão.
— Fogo! — gritava o sargento.
— Disparem! — mandava o capitão.
— Atirem! — ordenava o general.
Mas os soldados eram tantos que demorava muito tempo a cumprimentá-los. Foi o sargento buscar o soldado João, dizendo:
— Rapaz, não te lembras de que te ensinei que a guerra é para matar? Vou pôr-te a corneteiro, já que não tens jeito para atirador.
O soldado João pegou na corneta, ei-lo a soprar, e logo o fandango ecoou pelos campos fora, convidando à dança.
Sapateava a tropa, rodopiava, batia palmas.
— Alto! — gritava o sargento.
— Basta! — mandava o capitão.
— Parem! — ordenava o general.
Arrancou o sargento a corneta ao soldado João e, zangado, explodiu:
— Vais para cozinheiro do exército. Ao menos aí não empatarás a guerra.
Mal chegou à cozinha, foi buscar café. Arrastava pelas fileiras, fumegando, o enorme panelão, apetitoso, perfumado.
Aproximava-se de cada soldado, tirava-lhe o capacete para fazer de malga, despejava-lhe uma concha de café. Amigos e inimigos, todos se deliciavam com tão inesperado pequeno-almoço.
— Ao vosso lugar! — gritava o sargento.
— A postos! — mandava o capitão.
— Perfilar! — ordenava o general.
Tiraram a panela ao soldado João, enrolaram-no numa bandeira da cruz vermelha, dizendo:
— Já não és atirador, nem corneteiro, nem cozinheiro. Daqui por diante, és enfermeiro militar.
Mal se viu na nova função, ei-lo a correr à procura de feridos.
Viu um tenente com um olho negro e foi tratá-lo.
Viu um furriel com uma picada de abelha e, num instante, lhe arrancou o ferrão.
Notou que os dois generais inimigos coxeavam ligeiramente, descalçou-lhes as botas e pôs-se a tirar-lhes os calos.
Então, o incrível aconteceu.
Os dois generais levantaram-se ao mesmo tempo e condecoraram-no com duas luzentes medalhas de ouro.
Como era noite, acharam que já passara o tempo da guerra, apertaram as mãos e partiram em paz.
O soldado João sete dias andou até chegar à sua aldeola, onde de novo sacha milho, rega cravos, semeia couves e manjericos.
Luísa Ducla Soares
O soldado João
Porto, Editora Civilização, 2002
Sugere-se que seja solicitada às crianças uma referência a algumas das qualidades morais do soldado João: a generosidade, a atenção em relação aos outros, a simpatia, a capacidade de se adaptar às circunstâncias, a atitude construtiva e conciliadora, a alegria, o espírito de iniciativa, a recusa de comportamentos agressivos.
Se salientar também como as referidas qualidades da personagem se tornam um meio eficaz de promover a reconciliação entre as partes inimigas.
Poder-se-á finalmente propor às crianças que imaginem, à semelhança do conto estudado, formas de superar conflitos, quer na escola, quer no meio familiar, por exemplo.
Aconselha-se, como leitura complementar, os contos:
Gandhi
Mohandas Karamchand Gandhi nasceu em Porbandar, na Índia, a 2 de Outubro de 1869. O pai era primeiro-ministro na corte do príncipe local. A mãe, mulher devota, deu aos filhos uma educação religiosa. A religião da família era uma combinação de Hinduísmo e de Jainismo.
Gandhi cresceu a acreditar na doutrina do karma, segundo a qual devemos rezar, ser disciplinados, honestos e parcimoniosos, a fim de conservarmos a alma pura.
Quando tinha treze anos, casou-se, segundo a tradição hindu, com Kasturbai Makanji, uma linda rapariga da mesma idade, dotada de grandes qualidades, como a paciência, a força e a coragem.
Quanto a Gandhi, era de baixa estatura, tímido, e tinha medo de várias coisas, entre as quais as serpentes, os fantasmas e a escuridão. Kasturbai ria-se com ternura do marido, por este ter de dormir com a luz acesa.
Gandhi sentia-se diferente das outras pessoas. Aluno fraco: terminou o liceu com dificuldade e teve más notas na faculdade. Em 1888, instado pelo tio, deixou a mulher na Índia e foi para Londres estudar Direito. Durante muito tempo, sentiu-se completamente só, um estrangeiro em terra alheia. A fim de se sentir mais confiante, decidiu transformar-se num autêntico cavalheiro inglês. Vivia num apartamento selecto e vestia roupas elegantes. Aprendeu a falar um inglês perfeito, teve aulas de violino e aprendeu até a dançar o fox-trot.
Mas não era feliz. Sentia que um fosso enorme separava o seu ser interior da sua aparência exterior. Tentou então recuperar a sua herança jainista: abandonou o apartamento selecto, passou a cozinhar as suas próprias refeições, a andar a pé em vez de tomar transportes, e aderiu à Sociedade Vegetariana de Londres. A sua nova independência fê-lo sentir-se mais feliz, embora continuasse desajeitado e tímido.
Tirou finalmente o curso e regressou à Índia, três anos depois de ter chegado a Londres.
De regresso a casa, soube que a mãe tinha morrido.
Gandhi abriu um escritório de advocacia em Bombaim, decidido a triunfar na vida profissional. Mas a sua timidez desajeitada impedia-o de falar em público e foi humilhado com frequência.
Como o irmão de Gandhi conhecia uma firma de advogados na África do Sul que precisava de um sócio, Gandhi, acompanhado pela mulher, deixou a Índia em 1893. De novo estrangeiro em terra alheia, experimentou o racismo na própria pele. A sua cor fazia dele um alvo de desprezo e de maus-tratos físicos por parte dos brancos sul-africanos. O trabalho no escritório era duro mas, em vez de desistir e de abandonar aquele país hostil, Gandhi decidiu mudar-se a SI MESMO, a fim de enfrentar os desafios que lhe eram colocados.
Através da auto-disciplina e da concentração, conseguiu atingir os seus objectivos e compreendeu que o verdadeiro exercício do Direito consiste em procurar o lado melhor da natureza humana e penetrar nos corações dos homens. Começou a encarar todas as dificuldades como formas de melhor servir os outros, atitude que viria a tornar-se o segredo do seu sucesso durante o resto da vida.
Numa noite de Inverno, Gandhi viajava de comboio, em negócios, numa carruagem de primeira classe. Um passageiro branco insistiu que Gandhi viajasse em terceira classe. Gandhi recusou, e o revisor atirou-o para fora do comboio. No meio de parte alguma, rodeado de escuridão e cheio de frio, Gandhi reflectiu sobre a profunda e dolorosa doença do preconceito.
Pouco depois da sua experiência no comboio, criou a teoria da satyagraha, que quer dizer “a força do amor”. Escreveu: A força do amor exercida através da paz triunfa sempre sobre a violência. Empenhou-se em extirpar a doença do preconceito, sem nunca ceder à violência e sem nunca exercer violência sobre os outros, e prometeu trazer a paz do Céu para a Terra.
No início do século XX, a África do Sul estava dividida em quatro colónias britânicas distintas: a Colónia do Cabo, o Natal, o Estado Livre de Orange e o Transval. A 22 de Agosto de 1906, o governo do Transval promulgou a Lei dos Negros, que privava os negros e os indianos dos seus direitos cívicos. Em resposta a esta lei, Gandhi formou o primeiro movimento não-violento de resistência de massas. Mais de quinhentas pessoas participaram neste movimento de desobediência civil.
Gandhi e os seus apoiantes lutaram pelos direitos de negros e indianos, bem como pelos direitos das mulheres. Prestou apoio jurídico gratuito e ajudou pessoas que viviam em condições desesperadas. Tratou de pessoas doentes, que tinham sido abandonadas durante uma epidemia, fez curativos a leprosos e reconfortou os moribundos. Costumava dizer:
— Estas pessoas são meus irmãos e irmãs. O seu sofrimento é o meu sofrimento. A minha família é o mundo inteiro.
Gandhi acreditava profundamente nos ensinamentos de um dos livros sagrados hindus, o Baghavad-Gita. Meditava várias vezes ao dia e tentava enfraquecer os seus desejos egoístas através do amor aos outros e do amor ao “Senhor do Amor”. Tentava não sentir raiva, para que esta não tolhesse o seu discernimento. Ao acreditar no poder do amor e ao tratar todas as pessoas como se fossem membros da sua própria família, Gandhi descobriu que deixara de sentir timidez e que não tinha medo de coisa alguma.
Tanto ele como os seus seguidores agiam no sentido de aceitar de igual maneira as coisas boas e más da vida, de receber os desafios com humildade e mansidão, e de trazer a harmonia ao mundo.
Gandhi regressou à Índia em 1915, acompanhado pela mulher e pelos quatro filhos. Começou a lutar para libertar a Índia do sistema preconceituoso de castas que dividia a sociedade em quatro classes. Os sacerdotes ocupavam o topo da pirâmide social, seguidos pelos príncipes e pelos militares que, por sua vez, se encontravam no patamar acima dos trabalhadores. Os pobres ─ os “intocáveis” ─ ocupavam o nível mais baixo da pirâmide. Gandhi chamava-lhes “filhos de Deus” e estava decidido a libertá-los do seu estigma.
Também se empenhou em libertar a Índia do domínio britânico. Durante trezentos anos, vários milhares de Britânicos tinham governado mais de trezentos milhões de Indianos. Gandhi dirigia-se às multidões e pedia-lhes que pusessem a satyagraha em prática, ou seja, o amor altruísta pelos outros. Os Indianos deixaram de colaborar com os Britânicos e muitos foram presos. Muitos outros começaram a confeccionar as suas próprias roupas, para não terem de comprar tecidos britânicos. A túnica branca de fiação caseira chamada khadi começou a ser usada por milhões de pessoas, tornando-se o símbolo da independência indiana.
O governo britânico ficou furioso com a não-cooperação da Índia e, em 1919, durante o massacre de Amritsar, soldados britânicos mataram 379 inocentes, tendo ferido mais de um milhar.
Gandhi liderou então um hartal, ou greve nacional, que paralisou a Índia inteira. A campanha não-violenta baseada na teoria da satyagraha continuou, encorajada pelas palavras do próprio Gandhi:
A não-violência actua de forma contínua, silenciosa e incessante, até transformar o mal em bem.
Em 1922, os Britânicos prenderam Gandhi por pregar a não-violência, por desafiar a autoridade britânica e por escrever panfletos anti-governo. Esteve preso durante dois anos, mas o movimento da não-violência manteve-se forte.
O imperialismo britânico na Índia estava sob ameaça e Gandhi sentia-se feliz. Não achava que o facto de estar preso fosse uma tribulação; pelo contrário, via-o como um motivo de orgulho. Considerava que sofrer corajosamente por um ideal era a força motriz que transformaria cada homem e cada mulher da Índia em seres livres.
Em países quentes e tropicais como a Índia, o sal é uma parte essencial da alimentação das pessoas. A lei britânica proibia os Indianos de fazerem o seu próprio sal e obrigava-os a pagar um pesado imposto sobre este produto.
Em 1930, Gandhi liderou os seus compatriotas na chamada Marcha do Sal. Acompanhado por setenta e oito pessoas, empreendeu a caminhada de Sabarmati até Dandi, uma cidade costeira que ficava a mais de 200 quilómetros. Quando Gandhi chegou a Dandi e pegou num punhado de sal, num gesto simbólico de desafio do domínio britânico, as pessoas que o acompanhavam excediam já as centenas de milhar. O governo britânico foi forçado a reconhecer que estava a perder o controlo da Índia.
Depois de liderar a Marcha do Sal e outras iniciativas igualmente desafiadoras, Gandhi sentiu que o jugo imperialista sobre os seus compatriotas estava a diminuir de intensidade, o que, para ele, constituía um motivo de grande júbilo. Os seus seguidores deram-lhe o cognome de “Mahatma”, que significa “alma grande”.
Mas o governo britânico não desistia facilmente da Índia e Gandhi foi preso depois da Marcha do Sal. Decidiu então jejuar, a fim de pressionar as autoridades. Foi uma forma poderosa e não-violenta de ameaçar o governo. Como este não queria ser responsável pela morte de Gandhi, após seis dias de greve de fome, acordou em proteger os direitos cívicos dos “intocáveis”. Conseguir mudanças sociais através de meios pacíficos foi o grande contributo de Gandhi para a humanidade.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os indianos de religião hindu e os indianos de religião muçulmana travaram uma guerra civil motivada pelas suas diferenças religiosas e culturais. Massacres e actos de destruição devastaram o país inteiro.
Durante todo este período de grande anarquia e sofrimento, Gandhi percorreu, descalço, aldeias remotas que tinham sido destruídas e continuou a pregar a sua mensagem de não-violência.
A 12 de Agosto de 1947, a Índia conseguiu, finalmente, libertar-se do domínio britânico. Mas o país estava separado em duas partes: a sul ficava a Índia, de maioria hindu, liderada pelo Primeiro-Ministro Jawaharlal Nehru e, a norte, o Paquistão muçulmano, liderado pelo Governador-Geral do Paquistão e Presidente da Liga Muçulmana, Muhammad Ali Jinnah.
Gandhi não comemorou a independência da Índia. Encetou um período de jejum para lembrar a Hindus e Muçulmanos a importância da paciência, da compreensão e do perdão, face à intransigência. Ansiava que o seu povo vencesse o ódio através do amor.
Como o movimento da satyagraha conseguira vencer o domínio britânico, Gandhi confiava que ele pudesse também unificar as facções que agora dividiam a Índia. Mas tal unificação nunca viria a consumar-se.
Embora extremamente debilitado devido ao jejum, Gandhi, agora com 78 anos, continuou a dirigir-se aos seus seguidores. Como ensinava e professava a irmandade de todas as pessoas e religiões, era odiado pelos Hindus e Muçulmanos, que acreditavam que a sua própria religião era a única verdadeira
No dia 30 de Janeiro de 1948, ao cair da tarde, quando Gandhi se dirigia para um encontro de oração, no qual era aguardado por milhares de pessoas, um Hindu, de nome Nathuram Godse, disparou sobre ele, atingindo-o mortalmente no coração. Gandhi caiu. As suas últimas palavras foram palavras de compaixão e amor:
Rama, rama, rama .
(Perdoo-te, amo-te, abençoo-te.)
Foi cremado em Nova Deli. Milhões de pessoas, vindas de toda a Índia e de todos os cantos do mundo, choraram a perda deste extraordinário mensageiro da paz.
Quando morreu, Gandhi tinha poucos bens: duas colheres, duas panelas, três macacos, três livros, um relógio de bolso, um par de óculos, uma tigela de alumínio (recordação da prisão), um conjunto de secretária, dois pares de sandálias, e a sua khadi.
As suas cinzas foram misturadas com pétalas de rosa e espalhadas pela família na confluência dos três grandes rios indianos: o Ganges, o Jumna e o Sarasvati.
O Bhagavad-Gītā diz que sermos unos com o Senhor do Amor é o estado supremo de ventura. Se conseguirmos atingir esse estado, passaremos da morte à imortalidade. O amor ilimitado de Mahatma Gandhi pela humanidade guiou a sua vida, mudou a vida de milhões de pessoas, e tornou-o imortal.
Demi
Gandhi
New York , Margaret K. McElderry Books, 2001
tradução e adaptação