Arquivo da Categoria: histórias com valores
Quase tão leve
Naquela manhã de primavera o inesperado aconteceu, o velho monge não conseguiu voar. Havia feito suas abluções, havia meditado longamente e longamente repetido as palavras sagradas. Havia elevado o espírito, mas o corpo, ah! o corpo não abandonara seu peso.
Com certeza, pensou o velho penitenciando-se, faltou-me a fé. E humildemente voltou a purificar-se na água gelada e, nu no ar cortante, orou até sentir-se tomado pelo calor de mil sóis. Mas, luminosa embora sua alma, não houve meio do corpo pairar acima do chão.
A Mesa dos Ricos
Se nos vissem sentados na nossa mesa de cozinha, feita à mão e toda arranhada, saberiam logo que não somos ricos. Mas o meu pai está a tentar fazer-nos ver que somos.
Será que não vê os meus sapatos gastos? Ou que o meu irmãozinho tem remendos nas calças que leva para a escola? E como explicará ele aquela carrinha a desfazer-se, estacionada à nossa porta?
A árvore do dinheiro
Em janeiro, quando a Menina McGillicuddy estava a fazer uma colcha em frente da lareira, reparou numa forma invulgar do lado de fora da janela da sua sala de estar.
Em fevereiro, quando a Menina McGillicuddy levantou os olhos do seu livro, percebeu que a forma era uma pequena árvore. “Uma dádiva dos passarinhos,” disse para consigo mesma.
Mais bonito do que as sardas
As rugas deviam simplesmente indicar o lugar onde os sorrisos estiveram.
Mark Twain
Aconteceu um ano no Zoo. Eu e a minha filha estávamos ao lado de uma avó e de uma menina com a cara toda pintalgada de sardas vermelhas e brilhantes. As crianças faziam fila, esperando que uma artista local lhes pintasse as caras, decorando-as com patinhas de tigre.
Uma segunda oportunidade
A questão não é se iremos morrer, mas como iremos viver.
Joan Borysenko
Sentado na cama do hospital, Buddy sorriu e assegurou à esposa, Ruth, “Estarei de novo a dançar a valsa contigo muito em breve.” Ruth aquiesceu e apertou a mão dele um pouquinho mais. Ao olhar para o homem que amava, ela sabia que esta provação o tinha assustado muito mais do que ele alguma vez admitiria.
Memórias e malmequeres
Já vi coelhinhos fofos bem cedo pela manhã e cheirei o perfume de doninhas através da janela do meu quarto à noite. Assisti, impotente, ao voo picado de um bando de pássaros sobre os meus legumes quase prontos a comer e tentei, vezes sem conta, criar uma horta. Dir-se-ia que, quando a colheita começa a ficar pronta e eu começo a antecipar o sabor dos frutos do meu trabalho, tudo acaba por desaparecer.
Contudo, não posso queixar-me, pois, quando era criança, estraguei alguns jardins…
Lembro-me do verão dos meus seis anos. Era o último verão de liberdade antes de entrar para a escola. Os meus amigos e eu passávamos dias ociosos na piscina ou a construir fortes, e costumávamos acabar por invadir o jardim de uma vizinha.
Escolhas
Beber e conduzir: há coisas mais estúpidas, mas são poucas.
Anónimo
Cresci numa pequena cidade bem próximo de Savannah, na Georgia, onde ninguém fechava as portas à chave durante a noite e a maior diversão era a noitada de futebol na escola secundária todas as sextas-feiras. O único crime de que se falava era a ocasional multa por excesso de velocidade e talvez, muito de vez em quando, estourasse uma briga ao sábado à noite no único bar da cidade. É uma cidade pequena e sossegada, onde os pais querem criar os filhos longe do crime e dos perigos de uma cidade grande, e onde os adolescentes sonham em partir à procura de algo maior e melhor.