Quem sabe um dia a vida tenha sido
a duas cores
duas
das que se guardam no arco-íris
A luz do dia verde
verde
da mãe das flores e das sementes
A luz da noite azul
azul
do céu da tempestade e da bonança
Se foi assim
com as duas cores
os homens refizeram o mundo
Deitaram-se à tarefa de
escolher
separar
multiplicar
combinar
recompor
inventar
desesperar
descansar
desistir
Foi num abrir e fechar de olhos
que tudo se desdobrou
do vermelho ao violeta
em mil e um degraus
que vemos e não vemos
pois reclusos ficámos
entre o sim e o não
o negrume e a alvura
a candura e o nojo
o excesso e o defeito
A tantas cores o mundo
e homens que vêem branco
e homens que vêem negro
num binómio incolor de suicidas
Licínia Quitério