Naquele tempo, as árvores pediam os meus cabelos.
Eu era alta, da altura da grande mocidade que me vivia, e as árvores tinham ramos que se curvavam para mim, e isso acontecia em todas as estações, ou então, nesse tempo eu era o verão e só sabia de flores e de frutos e mal tinha percebido a canção das seivas tronco acima, tronco abaixo.
Se não tivesse acontecido a loucura desse verão, eu não seria hoje capaz de me sentar à sombra, olhar o alto, dizer ár-vo-re como quem embala um amor antigo, demorar-me na vibração das asas de uma borboleta.
Por vezes penso no dia em que também serei árvore e tocarei sorrateira os cabelos da rapariga que caminha apressada, na sua aprendizagem de contar amores e perdições.
Enquanto espero, penso no nome a dar à floresta.
Licínia Quitério