A evolução humana

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A evolução humana encontra-se marcada por uma série de diferenciações importantes, que são, ao mesmo tempo, normais e cruciais no contexto do desenvolvimento da consciência. Cada etapa de evolução permite-nos observar as etapas que a precederam, bem como as características que lhe foram adicionadas e que as transcendem.

Assim, durante o processo evolutivo, aquilo que constitui um todo numa etapa vai tornar-se uma parte do todo que constitui a etapa seguinte: átomos inteiros tornam-se partes de moléculas, moléculas inteiras tornam-se partes de células e células inteiras tornam-se partes de organismos.

Contudo, pode acontecer que hierarquias normais e naturais degenerem em hierarquias patológicas, tanto no mundo natural como no mundo humano, pois existem totalidades que não desejam tornar-se partes de algo que as transcende, e cujo único desejo é dominar.

No que diz respeito aos seres humanos, este anseio de domínio tem sido uma característica permanente da nossa vida na Terra. Desde tempos imemoriais que tribos competiram entre si pelo domínio do território que todas habitavam, até que uma delas se acabou por sobrepor às outras, com o consequente e frequente redesenhar de fronteiras que tinham sido estabelecidas há seculos.

Todavia, os danos infligidos à biosfera e aos outros seres humanos eram, nessa altura, relativamente inócuos, porque os meios e tecnologias utilizados eram muito básicos. É obvio que não se podem infligir danos significativos com arcos e flechas, embora esta escassez de meios não implique necessariamente que sejamos partidários do pacifismo.

Com o decorrer dos tempos, foram sendo concebidas novas armas, ao mesmo tempo que tecnologias avançadas iam sendo postas ao serviço de novos tribalismos, tribalismos esses que resultavam de uma combinação de nacionalismo, racismo, intolerância e ódio nas suas múltiplas formas. E o mundo tornou-se testemunha de genocídios, holocaustos, bombardeamentos massivos e limpezas étnicas, todos eles produto dos instrumentos de uma tecnologia avançada — carvão e aço, motores de combustão e câmaras de gás, metralhadoras e bombas atómicas — utilizada pelo mais ignóbil dos motivos e para o mais ignóbil dos fins.

Não é a capacidade intelectual ou o progresso tecnológico que tornam os países desenvolvidos. É o reconhecimento de que a nossa falta de consciência e de controlo emocional podem conduzir-nos a perpetrar inúmeros e inimagináveis atos de destruição.

Em última análise, o que torna uma pessoa, uma comunidade ou um país admiráveis e fortes é a sua capacidade de empatia, de diálogo e de respeito, não a sua capacidade para infligir dano aos outros. Os agressores, sejam eles indivíduos ou estados, são sempre, no fundo, uns cobardes.

Ken Wilber
(Adaptação)

 

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