A folha do limoeiro – Memórias – Mónica Baldaque (sugestão de leitura)

Mónica Baldaque
A folha do limoeiro – Memórias
Porto, Asa Editores, 2001

Vivemos rodeados de vozes. E não são apenas vozes de pessoas. Tudo tem voz. O vento, a chuva, as folhas das árvores; uma cidade, uma rua, uma casa. As próprias recordações têm uma voz. São companhias, são laços fortes com os encontros que constroem os cenários da nossa vida. Se nos dedicarmos a ouvir as vozes que nos acompanham, sentimos necessidade de as fixar, e de partilhar com elas a nossa própria voz. Ou assim, em tom de memórias escritas ou pintadas. Ou de tantas outras maneiras que vocês descobrirão.

Laura, sou eu, é percorro aqui o tempo de um ano de infância, passado entre o Porto e o Douro. E anoto atmosferas, sentimentos, toda uma forma de ver rolar os dias, como se os espreitasse sempre por detrás de um cortinado…

Acompanha-me ao longo do texto a folha do limoeiro, pela qual eu bebia a água gelada da mina, que corria brilhante e rápida, sobre o musgo e uma terra macia e dourada como um pó de arroz. Simbolizando a água da vida, a fonte da juventude eterna. Três vozes principais se encontram aqui.

A primeira voz é a de minha avó Laura. Uma voz do não-dito, que esteve presente até aos 97 anos, às vezes já refugiada no esquecimento, outras vezes na memória.

A segunda voz é a de minha mãe, Agustina. Uma voz que é um dom, de um tempo que é propriedade sua. Uma vida de belas palavras, entre nuvens, brumas e ventos, num percurso circular, sem fim.

A terceira voz é a minha: Laura, que murmura encontros e memórias de três gerações.