António Mazzi
Como estragar um filho em dez jogadas
Lisboa, Paulus Editora, 2006
(excertos adaptados)
7. Recorde as boas maneiras
Suicídio e libertação total de inibições: são estas as duas margens externas que delimitam os dramas dos jovens dos últimos tempos. Gostaria, pois, de me deter numa destas margens, isto é, na triste e absolutamente injustificada grosseria dos bandos de delinquentes. Não vou sobrevalorizar os factos, nem vou pôr etiquetas bombásticas nos meninos que querem brincar aos delinquentes. Já o escrevi. Com a ideia fixa que ultimamente me traz preocupado, voltarei à figura demasiado apagada do pai moderno.
Há muito tempo que os adultos, sobretudo os homens, exteriorizam inconscientemente uma desconcertante dose de má educação. Transgridem e ignoram as mais simples e fundamentais normas de convivência social. Estacionamento em terceira fila, passagem do semáforo vermelho, palavrões e gestos impensados, humor grosseiro a respeito de amigos e inimigos, passeio do cãozinho que deixa o passeio imundo; latas de bebidas e beatas de cigarro lançadas janela fora dos carros, relampejo furioso dos faróis e grandes buzinadelas; desprezo absoluto pela distância a respeitar entre dois carros, cigarro aceso na aula ou nos locais onde é proibido; resposta indignada a quem lhe tenta fazer respeitar as regras; pernas esticadas em cima da mesa; chacota e troça sistemática do vigilante ou do segurança; Kawasaki 1000 a toda a velocidade e com o maior estrondo.
A lista mal começou e, por uma questão de boa educação, fiquei-me pelas infracções mais evidentes e consideradas ligeiras. Porém, não são nada ligeiras, porque geram nas crianças a mentalidade da transgressão que amanhã comprometerá todo o seu comportamento. É precisamente aqui que encontro a origem do mau comportamento de muitos adolescentes, mesmo de “boas” famílias. Gostaria muito que os pais reflectissem sobre estas coisas “simples”. Comecemos já a mudar, a partir de agora, antes de recorrer à polícia e às sanções proibitivas.
8. Encha-o de lambarices
Diz-se que as nossas crianças são obesas. Eu, rio-me para mim mesmo e para os outros, e uso há algum tempo o simpático epíteto “gorduchinhos”, aplicando-o a uma boa parte dos filhos de hoje. Parece que a Península Itálica está nos primeiros lugares, com 35% de crianças XL. Em Teramo, por exemplo, nasceu uma experiência num centro desportivo italiano que, acabando com dietas de emagrecimento e conversas com o psicólogo, usou apenas o desporto, e com resultados muito positivos, para diminuir o peso dos “gorduchinhos”.
Em oito dias de internato foram inseridos programas e actividades cuidadosamente preparadas que permitiram às crianças divertir-se, esforçando-se sem se dar conta, num treino inteligente e num ambiente festivo, ao fim do qual foram entregues aos pais com o peso e forma adequados à sua idade. Acordar cedo, uma boa caminhada, pequeno-almoço às oito, à base de leite, iogurte, bolachas e fruta. Durante a manhã, um longo passeio no campo. Ao almoço um menu característico de atleta. Uma tarde preenchida com actividades especificamente desportivas: psicomotricidade, exercícios de ginástica, jogos monitorizados, muita natação, partidas com desportos de grupo (voleibol, basquete, rugby, golfe, etc….). O jantar, de novo baseado em alimentos que os gorduchos quase nunca comem.
Cozinheiros propositadamente preparados educam e ajudam estes simpáticos “atletas” a apreciar o sabor das verduras, da fruta, do queijo, dos ovos e de outros alimentos naturais. O ambiente é muito calmo, evitam-se todos os esforços e desportos mais cansativos. Não há televisão, o dinheiro é entregue ao instrutor, nada de bar, para afastar as crianças das habituais tentações (batatas fritas e afins…). Se alguma dúvida me resta é o regresso a casa destas crianças onde reencontrarão a mãe, o pai, as batatas fritas, os pastéis e, depois de algumas semanas, a barriguinha….